janeiro 31, 2009

Na varanda...

Abre a porta e, mal põe o pé na varanda, sente o vento gélido que a tenta demover. Vira-lhe as costas, fecha a porta e aperta a chave na mão, avançando pela escura varanda, contra o gélido vento. Já tinha saudades de, já de noite, ir fechar as portadas da janela do seu quarto, o seu pequeno refúgio.
Lá vai ela pela varanda, ao frio, abraça o corpo na esperança de o vencer. Os fracos resultados parecem satisfazê-la, já que, encostada a um dos vários pilares, contempla o enorme gigante que sabe estar prestes a abandonar. As lágrimas começam a congestionar-lhe os olhos, as imagens da meninice correm-lhe pelos olhos castanhos. Desvia o olhar um pouco para a esquerda. Aquele arbusto, ao lado da gigantesca pinheira, há dezassete anos atrás, numa tarde de Verão, servia de mesa a um bolo, ela fazia um ano. Era tão pequeno o arbusto, tal como ela, ele crescera.
Respirou fundo e engoliu as lágrimas. Caminhou para o seu objectivo, fechou as portadas da janela, com a certeza que, por muito que já tivesse sofrido ali, aquela seria sempre a sua casa, a janela do seu quarto, o seu arbusto e a sua pinheira.
Quando caminhava para a porta, passou pelo seu banco e disse-lhe adeus. Introduziu a chave, que mantivera apertada na mão, na ranhura e, com um último olhar para as luzes da aldeia, entrou, trancou a porta e voltou para o computador.

Borrega

janeiro 30, 2009

Hoje sinto-me...

Hoje sinto-me escritora. Escrevo no papel e não no computador. Estou sentada à secretária de madeira e tenho uma das melhores paisagens lá fora.
Hoje sinto-me empresária. Estou sentada de perna cruzada atrás duma secretária, tenho uma única foto que me alegra bastante dum lado, e do outro, o portátil para trabalhar. Tenho uma paisagem muito boa lá fora, mas não olho....
Hoje sinto-me estudante. Os 'calhamaços' estão no chão à minha espera. Escrevo e escrevo bastante...
Hoje sinto-me eu. Ninguém me amarra, ninguém me alegra, ninguém me entristece. Hoje sou só eu e aquela paisagem lá fora da janela, e eu hoje sinto-me feliz.

Pulga

janeiro 29, 2009

Porque convém recordar...

(©2009 - Oscar Marcelo, www.oscarmarcelo.com. Todos os direitos reservados.)





Pulga e Borrega

[Obrigado a todos, em especial ao Oscar =)]

a dar ESCÂNDALO desde 1990


Pulga e Borrega

janeiro 28, 2009

Adeus

‘Estúpida’ murmurou para ninguém enquanto olhava pela janela ao fundo do corredor. Estaria à espera daquilo que nunca lhe tinha acontecido?
Estava-se a enganar, como tantas vezes fez desde que se despediu dele com um sorriso nos lábios.
De certeza que a dor, a ansiedade passara de espiritual para física. A decisão que tinha de tomar doía-lhe. Não queria ser ela a tomar essa decisão. Não queria ser ela a tomar essa atitude. Não queria ser ela a ceder.
Ele não lhe falava. Ela não lhe falava. Odiavam-se por isso e no entanto, continuavam a preencher os pensamentos um do outro. Para ela bastava-lhe que ele desaparecesse, para que ela conseguisse tomar essa atitude. Ele apenas seria uma pinta num quadro abstracto a que os mais leigos chamam de vida. Ele não seria mais um borrão disforme e confuso.
‘Estúpida’ voltou a murmurar. Nenhum carro pararia à sua frente para a resgatar de tal decisão. Ele não lhe apareceria com um sorriso e gritaria ‘Surpresa!’. Ela não devia deixar a sua imaginação criar-lhe esperanças.
‘Estúpida’ murmurou uma última vez, enquanto olhava para a porta do quarto. Ele não iria irromper pela porta dentro, com um ramo de rosas na mão e um pedido de reconciliação nos lábios. Não era ele. Não era aquele que ela amava.
‘Adeus’, decidiu-se por entre lágrimas. ‘Adeus.’

Pulga

janeiro 27, 2009

Anseios


Do meu banco, vejo os verdes montes distantes, os seus contornos são de um nublado rosa-alaranjado, muito carregados e inebriantes. Vejo uma esfera de amarelo etéreo e quente, enterrando-se até ao pescoço, aconchegada, entre os montes.
Limpo, com mãos exasperadas, as gordas lágrimas que me rolam pelas faces. Sinto-me só e tão insignificante perante o espectáculo da vida que se desenrola à minha frente.
Vejo “as formigas” que andam, atarantadas, de um lado para o outro, no asfalto negro, aquecido pelo fim de tarde. Elas passam e passam, de um lado para o outro, numa roda-viva de cores, sons e velocidade. Nunca mais uma das formiguinhas com rodas abre pisca e entra pelo portão escancarado da minha casa, porque nenhuma delas és tu.
Tu sentar-te-ias ao meu lado, apertar-me-ias nos teus braços e mentirias. Sim, mentirias. Sussurrando-me, na tua voz grave, que está tudo bem, quando eu sei que não está.
Mas terias de ser tu a fazê-lo, pois nisto não consigo mentir a mim própria, não me consigo enganar. Tu, com os teus olhos límpidos e meigos a fitar-me, tão calorosos com o poente, e com a tua voz no meu ouvido, a repetir sem cessar “Está tudo bem.”, serenarias o meu espírito e talvez eu até sorrisse.
Contudo, nenhuma das formigas és tu e não te posso arrastar comigo, não te posso e não te quero preocupar, por isso, quando perguntas “Estás bem?”, muitas são as vezes em que minto.
Agora, aqui estou eu, sentada, num silêncio chorado, no meu banco, banhada pelo imenso pôr-do-sol.



Borrega

janeiro 26, 2009

borboleta


No banco de tantos dias, com a tinta verde a lascar ao sol prometedor daquele soalheiro dia invernesco, lá estávamos nós, as do costume... Os risos, as confidências, os olhares cúmplices ou o silêncio, pela presença umas das outras ser suficiente, perfumavam a aura envolvente.
Então, a borboleta que esvoaçava por ali, decidiu, de repente, pousar, colorida, por entre os nossos risos, sob os ténis brancos e rosas de uma de nós. Momento fugaz, efémero, que fomos incapazes de capturar, pois o telemóvel foi posto tardiamente em riste. E ela voou para longe, matizando o céu azul, salpicando-o dos tons garridos das suas asas. Falámos então do ápice que o telemóvel perdera.
Ainda com a imagem pintada na retina, divaguei, por entre os solavancos acelerados do caminho até casa. Será que os laços que aqueles risos, olhares, confidências, silêncios espelhavam seriam tão efémeros quanto a linda borboleta perdida na enormidade do céu? Fiquei suspensa nesta pergunta de vaticínio agoirento.
No entanto, outro belo quadro me surgiu na mente, esfumando o negro cortinado imposto antes, como se raiasse a madrugada: outra borboleta, outro ano, outro dia, outra terra, até outro banco, mas as mesmas rindo, as do costume...


Borrega


P.S.- À Ana Lúcia e à Filipa, à Joana, à Salomé e à Ana Sofia... a todos os que deixei para trás, mesmo que apenas pela distância, a todos aqueles em que pensei quando, há um ano, escrevi este texto.

Esquecimentos

Já me esqueci da originalidade. Já me esqueci da alegria. Já me esqueci de sentir. Já me esqueci de pensar. Lá bem no fundo sei que já fui como um animal. Apenas respondia às necessidades primárias. Nunca ficar sozinha. Não pensar, agir. Não sentir. Não falar. Comer para sobreviver. Respirar para viver.
Hoje agi em contrário. Hoje decidi recordar. Recordei como é bom ser original. Recordei como me faz bem sentir alegre. Recordei como sentir me faz andar nas nuvens. Recordei como é pensar. Cá bem à superfície sei que nunca serei apenas um animal.
Hoje apercebi-me de que de tudo aquilo que li, alguma coisa é mesmo verdade.
Hoje é um bom dia. Hoje é um dia que não quero esquecer.

Pulga

Boneca de Pano

Coloquei-te uma boneca de pano nas mãos e observei-te.
Ao início ficaste parado, com a boneca nas mãos. Talvez te perguntasses o que era, talvez já o soubesses. Apalpaste e trataste com cuidado. Senti-me orgulhosa de ti. Senti-te entusiasmado com o novo brinquedo. Depois começaste a querer saber mais. Querias saber o que havia para além da boneca. Apertava-la com mais força, mas com aquela tua doçura, que só tu e eu sabemos. Não eram motivos para alarme. Apenas bastou um piscar de olhos para que tudo mudasse. As tuas mãos já não tinham qualquer doçura, já não querias saber da boneca. Asfixiaste. Esmagaste. Rasgaste. Mordeste. Pisaste. Largaste.
Enquanto toda a barbaridade ocorria, não me consegui mover. Apenas sabia que ainda vivia, pois ainda me doía, e as lágrimas escorriam pela minha face abaixo.
Quando desapareceste, quando eu me consegui mover, peguei na boneca de pano. Se numa tão pequena e frágil boneca de pano lhe fizeste tal coisa, que farias se te colocasse o meu coração nas mãos?

Pulga

janeiro 25, 2009

Amanhã

O amanhã virá, pensava apenas.
Oh como me parecia bem a doce inércia. Como saboreava aquele ataque de preguicite. Como não pensava em nada, e como não pensar me soava tão bem. Apenas tinha sensações, boas sensações. O que interessava o vazio que as seguiam? Eram boas sensações.
O amanhã virá, e com ele trará mais dessas boas sensações.
[Então aqui estou eu à espera do amanhã.]

Pulga

janeiro 22, 2009

Meias Desemparelhadas

Cinco anos de cadeia por morder o nariz

“O tribunal de Derby, no Reino Unido, condenou na semana passada David Wilson, 48 anos, a cinco anos de prisão por ter mordido e arrancado parcialmente o nariz de Diana Fox, de 45. Em circunstâncias não explicadas, agressor e vítima encontraram-se no Verão, em Buxton, e num acesso de fúria David agarrou Diana e ferrou-lhe os dentes. Ele entregou-se à polícia no dia seguinte ao incidente; ela passou por uma série de cirurgias plásticas.”
Revista Sábado, nº247

O Evander Holyfield ficou sem uma parte da orelha que nós supomos que seja o lóbulo, impedindo assim de usar brincos bonitos como os do Quaresma, à pala do Mike Tyson, mas isto foi num ringue de boxe. Isto não foi, não quero saber em que circunstancias é que isto aconteceu, isto é um pouco dúbio. Mas se ele lhe fez uma coisa destas é porque anteriormente ela lhe devia ter posto um par de cornos.
Conclusão:
Se ele tinha cornos devia-lhe ter marrado, mas contudo os cornos dele são atrofiados por isso ruminou-lhe o nariz.
Nota especial de rodapé:
Agradecemos ao telemóvel Vodafone 710 que apesar de velho contem estes preciosos registos gravados e foi um precioso auxílio a este grandessíssimo post.

Pulga e Borrega

Soluços

Ela chorou, chorou no banho, na cama e na rua. Chorava e não parava.
Ela chorava sem parar, as fontes não secavam, as lágrimas não paravam. Tinha a vista turva pelas gotas salobras, o mundo parecia-lhe mais feio, ela era mais “feia” que antes. Não estava a ser honesta com a sua escolha.
Tal com Hamlet, ela escolheu entre a vida e a morte. Escolheu sem convicção, se queria a vida tinha de se agarrar mais a ela e isso era difícil, difícil demais para alguém tão fraco.
Ela chorava sem parar, chorou até que a alma se acalmou.
Voltou a escolher, escolheu de novo a vida, escolheu-a à espera de ser forte, ou até à próxima chuva torrencial.


Borrega

janeiro 21, 2009

Sonhos

‘Porquê?’ interrogou-se com um sorriso a florescer-lhe no canto da boca.
‘Porque sim.’ Simplesmente lhe responderam.
‘Sabes que isso não é resposta. Porque não me contas?’
Apenas silêncio.
‘Não me respondes?’
Desligou o telefone. A curiosidade não lhe caía bem. Sempre uma sede de querer saber toda a história nunca lhe facilitou a vida. Passou pelo espelho da cómoda, estava normal. Sorriu para o reflexo. Pegou na sua mala de tantos anos, de tantas pequenas grandes viagens, e colocou-a a tiracolo. Nunca perdera aquele hábito.
Olhou para o carro, não era o melhor, não era o dos seus sonhos, um dia conseguiria, mas por agora aquele servia-lhe bastante bem. Hesitou perante o lugar do pendura, aquele lugar trazia-lhe boas recordações… Nunca conseguira andar naquele lugar sem que alguma lhe assaltasse a memória.
Repensou na conversa. Que lhe estaria ele a esconder? Sendo ela quem era, ele devia saber como contraditória era! Adorava surpresas, mas gostava de ser informada que iam faze-las…
Recostou-se no banco e meteu a primeira. Fosse o que fosse, não seria mau. Mesmo ele não tendo por hábito dar más notícias, ela reconhecia sempre nele algum tom que a faria ficar alarmada. Mas não agora, não hoje.
Segunda. Estrada vazia. Como era bom conduzir assim. Ninguém para nos avaliar. O familiar ruído do telefone a vibrar cortou-lhe os pensamentos. Em alta-voz, atendeu:
‘Sim?’
‘Olá! Ouvi dizer que tu…’ a voz interrompeu-se.
‘Que eu…’ incitou ela.
‘Que tu ias ter com ele.’
Suspeito, pensou ela momentaneamente. A voz tinha-se autocorrigido. De certo estava a par do que se passava.
‘E ligaste-me para…’
‘Oh! Apenas quis ouvir o som harmonioso da tua linda voz pelo raiar da tarde!’, notava-se o sorriso na voz.
Sempre má mentirosa, pensou.
‘Estou a conduzir. Desejas mais alguma coisa?’
‘Estás a conduzir? Desculpa, pensei que ainda estivesses em casa.’
‘Ainda? Sabias que eu ia sair?’
A chamada caiu. Pela segunda vez, odiou o telefone. Estava a deixá-la num imenso estado de ansiedade.
Chegou a casa dele. O carro dele não estava lá. Que bom! O dia corria-lhe cada vez melhor. Fizera todo aquele caminho para estar com ele, e quando chega a casa dele, ele não está? Algo de estranho havia ali. Ele alertava-a de tudo o que fazia. Às vezes chegava mesmo a ser aborrecido e apetecia-lhe atirar o telemóvel contra uma parede, mas hoje… hoje nada era normal. E continuava a apetecer-lhe atirar o telefone contra uma parede.
‘Já te vais embora?’ sussurrou-lhe ele ao ouvido, com a voz mais suave que conseguia naquele momento. Estava por detrás dela com as mãos em torno da cintura dela, de modo a conseguir agarrar as mãos dela à frente.
‘Estava a pensar nisso’ tentou ela dizer, simplesmente, mas foi silenciada com um beijo. Arrastada até dentro de casa. Os pais dele não estavam? Estranho. A Sr.ª e o Sr. estavam sempre lá. Pessoas simpáticas.
‘Vais finalmente contar-me a minha surpresa?’ perguntou-lhe ela.
Ele parou-a no centro da sala. Olhou para ela com os seus enormes olhos e lançou um enorme sorriso.
Pipipipipi Pipipipipi …
O telemóvel jazia desmontado, com o visor rachado, junto à parede, mesmo ao lado da secretária. Não resistira. Não após aquilo que o atrasado do telefone lhe fizera. Finalmente quando ia descobrir a razão da sua ansiedade, quando o tinha junto a ela, agarrado a ela, o despertador do telefone tocara. Como era possível? Não podia ela apreciar um pouco mais? Não precisava mesmo de saber o que se passava, apenas mantê-lo junto a ela, como já tivera tantas outras vezes.
Pulga

janeiro 20, 2009

Palco



Um palco, meia dúzia de pessoas em cima dele, pessoas essas que têm o privilégio de poderem ser 1001 num só corpo. Vivem o que fazem, dão sentido, vida, na realidade, animam as palavras escritas por alguém...
Revezam-se em cima desse palco, esforçam-se, tentando despoletar em nós um chorrilho de emoções, as emoções que também eles sentem, emoções essas que foram idealizadas por algum vulto de pena fantasiosa e eloquente, em riste, contra uma simples folha branca. Querem que nós possamos sentir e desfrutar pelo menos um décimo daquilo que eles sentem.


Hoje fui um desses privilegiados, hoje também eu pude sentir aquele tal décimo que me encheu a alma. Senti a revolta a crescer, o desespero e a resignação, à medida que também “aquela pobre mulher” sentia, por isso agradeço a todo o elenco e um obrigado especial à Sr.ª Maria do Céu Guerra, que muito admiro.

No entanto, a revolta que senti não foi só a que me foi despertada pelo enredo da peça, mas também uma revolta minha, por, naquele teatro, ter constatado, uma vez mais, a incultura e falta de respeito de alguns jovens pelo trabalho dos outros e por algumas formas de arte. Simplesmente não consigo compreender este tipo de postura. Eu acho fascinante o trabalho desenvolvido pelos actores e tenho um apreço especial por todos aqueles que lutam para que não seja banido este combate corpo a corpo, de peito aberto
[1], que é o teatro. Admiro aqueles que tentam salvar a revista à beira da extinção. No fim de contas, admiro todos aqueles que não se rendem à “caixinha mágica”, todos aqueles que lutam para que esta arte continue a pulsar de forma forte e ritmada, para que ela não se extinga, para que a arte de representar, o palco e o corpo a corpo com o público não desapareçam.

Mesmo assim, não consigo deixar de pensar: será que nós, auditório, merecemos que eles continuem a travar esta batalha inglória??? Tenho a impressão de que se eles ainda o fazem é porque acreditam que as mentalidades, dos jovens e do público em geral, mudam; é porque sabem que felizmente há luar!



[1] Fragmento de uma das frases utilizadas por M.ª do Céu Guerra na pequena introdução que fez à peça.

Borrega
(22/11/06)

janeiro 19, 2009

Carta de um Marginal (PARABÉNS PRIMA)

Um dia, pego na estrela que trago no coração e atiro-a à cara de alguém...

Um dia, agarro todos os meus sonhos e todos os meus sorrisos e deito-os no poço, já que ninguém os quer...

Um dia, junto as pétalas das rosas e a ternura que trago nas minhas mãos e ponho-as às costas de uma pessoa qualquer...

Um dia, apanho o meu olhar mais doce, o meu búzio mais lindo e a concha do mar da minha infância e deixo-os a morrer de fome...

Um dia, vou dentro da minha alma, tiro-lhe todos os tesouros e os mais lindos poemas que trago comigo e rasgo-os diante de uma multidão...

Um dia, as asas dos meus pássaros baterão com tanta força que eu irei com eles, a voar... a voar...

Um dia, drogo-me, por saudade da minha ternura perdida, violento-me e violento uma menina de trança louras...

Um dia, roubo um banco, compro uma mota e fujo para o fim do mundo...

Aí dou um beijo a qualquer desconhecido...
Aquele beijo que sempre quis dar...

From: um caderno de poemas da minha mãe, achado no meu sotão poeirento.

Borrega
20/01/09

Memórias

Oiço os primeiros acordes da música e ausento-me momentaneamente. Se pudesse, se tivesse planeado isto, na ponta do meu nariz diria: “Não incomodar, proprietário ausente por tempo indefinido”

Perdida em memórias… [Haviam muitas exclamações religiosas que eu poderia dizer, mas vou-me conter.] O vento continua a rugir lá fora, e vejo pelo reflexo no portátil que as árvores executam estranhas danças. Chove, mas isso não é relevante, a chuva não dói, a chuva não me toca…
Devia estar a estudar Biologia Celular ou Física, mas aquilo que li ontem tocou-me cá dentro. Não posso deixar sem resposta. Afinal a escolha não foi apenas dela, não foi apenas minha, foi. Somos irmãs a partir do momento que assim o quisemos, somos irmãs.
A música continua, e eu recordo aqueles fatídicos dias à mais de 3 anos… Ela tem razão, não estava lá, estava receosa das opiniões dos outros, se me iam aceitar, estava ansiosa pelas reacções. Estava à espera de telefonemas, de mensagens de apoio. Bem, não posso negar que uma semana depois corria tudo às mil maravilhas. E muito menos posso negar que a vida me tem corrido bem, que me tem sorrido, e as pessoas que eu escolhi para família não me desiludem. E a minha irmã… a minha irmã que não está aqui ao meu lado, mas mais tarde estará, ela sempre me acompanha, porque se eu sou a melhor parte dela, ela decididamente que tem o meu melhor lado!

I want to let my brother know
He saved my life a thousand times
Throughout the years he's been my friend
Who's always there

Blue October – Overweight
Pulga

Folhas Rasgadas

Nunca tive um diário a sério, a minha vida sempre foi demasiado monótona e monocromática para isso. Hoje as coisas não são muito diferentes, mas sinto-me muitas vezes a rebentar e os sentimentos fluem num enorme emaranhado ao longo das minhas veias.

Experimento, vezes sem conta, uma descomunal anarquia de sentimentos que percorre e abala cada centímetro do meu frágil corpo, quase de mulher, mas que continua a espelhar a criança que guardo no meu âmago.

Nessas alturas costumo esboçar ideias em qualquer pedaço de papel que apanhe à mão. Escrever é a minha terapia, é a forma de espiar os meus pecados e de exorcizar os meus fantasmas.

Os meus textos são o meu diário, como páginas rasgadas de um livro. Esse livro sou eu e cada texto é uma parte de mim. Eles mostram os meus medos, fantasias, ansiedades e dilemas. O que penso, o que sei e o que imagino e sonho. Porque quando escrevo estou tão exposta e frágil quanto uma criança que acabou de irromper do útero materno. Quando escrevo sou eu, sem pudores ou preconceitos, completamente nua, perante um pedaço de papel.

Borrega

My Person


"She's my person. If I murdered someone she'd be the person I'd call to help me drag the corpse across the living room."

(Cristina Yang, Grey's Anatomy 3.16)



Primeiro post deste blog... Bem acho que, por bem, devo apresentar-me. O meu nome é...
Espera aí! Porque raio me hei-de apresentar a mim?
Não, digo-vos muito mais de mim apresentando-a a ela, a minha companheira de blog.
O vento ruge la fora, é tarde e eu devia estar a fazer uma de duas coisas: a dormir ou a estudar para a frequencia de Biofisica. Como é óbvio, nem uma, nem outra me ocupam a mente agora.
Há cerca de três anos atrás, eu estava a iniciar o secundário e havia esta rapariga nova na minha turma. Ela parecia... assustada, sim era isso, assustada. Ela nao queria estar ali, parecia que se pudesse estava noutro lugar, sabia-o pelo olhar vago e distante. Aquele nao era o ecossistema dela!
De há três anos para cá muito se passou. Escrevo sentada na cama do meu quarto na residência universitária, na cama ao lado esta a pessoa que eu escolhi como irmã. É a mesma menina de há três anos, mas agora, como há já bastante tempo, os olhos dela já não estão vagos e distantes, estão apenas cansados e à espero do sono.
Ela é a responsável pela criação deste blog, se querem ler algo de jeito, leiam os posts dela.
Há minha s'amesa dos phones, do útero, do dedo grande do pé e, mais importante que tudo, do coração!


"You know i love ya... See ya... Bye-bye"


Borrega