agosto 30, 2009

Irmãs


"There's a point when you stop to being friends and become sisters."

Sentada no fundo do poço olhei para cima, quem lá estava, invariável e intemporalmente, à minha espera?
Tu!
Tu, pequena, de cara de boneca.
Tu, pequena, que és parte, mais que entranhada, de mim.
Tu, pequena, que amo!
"Amo.te Caralho!"
Quando choro, és tu que me abraças.
Quando tudo cá dentro rui em cacos, és tu que tens a super-cola!
Quando tenho medo, és tu que me ajudas a rir até espantá-lo.
Quando te olho, é uma vontade enorme de te proteger e te ver feliz, porque tu és a melhor parte de mim e não te quero, jamais, perder.
Apareceste do nada, cabisbaixa, voz quase sumida.
Apareceste e, de mansinho, tornaste-te vida, a minha vida.
Porque me amas, mesmo quando eu não o faço.
Porque não tens medo de me apontar o dedo e me ajudar a crescer.
Porque me apoias mesmo quando soa a loucura.
Porque mesmo quando tudo parecer perecer, tu ficas!
Porque tu és eu, eu sou tu...

"Always you, Forever yours..."

Borrega

P.S. - "This is a dedicatory song":
Para a S'amesa, Pulga, Honey... (Tens tantos nomes... xD)
P.S.2 - Mas quê?? Aqui já te auto-censuras?? Para que raio eram os (*)s??? Ai a minha vida... [by Pulga]
Créditos:
Música:
Blue October - "For my brother"

Coldplay - "Talk"

Rembrandts - "I'll be there for you"
Imagem:
Alinne Moraes e Fernanda Lima

agosto 29, 2009

Dança, pequena


Dança, pequena. Agita o teu corpo em frente à branca bancada. Suja de sangue essa incólume bancada. Dança, pequena, dança. Que enquanto danças, o tempo dança contigo, e a bancada suja-se mais um pouco.
Canta, pequena. Esganiça a tua voz atrás dessa máscara. Mostra-te verdadeira enquanto os outros ao teu lado fingem. Grita mais um pouco. Goza mais um pouco. Dá-lhes pano para mangas, dá-lhes razão para falarem mal de ti. Canta, pequena, canta. Pois a cantar esse mal espantas.
Sorri, pequena. Que todos eles andam atrás de ti. Se não és comprometida é porque não queres, pois o teu sorriso deixou-os aos teus pés. Sorri, pequena, sorri. Ri mais uma vez. És tu pequena. És aquela a quem eles retribuem o sorriso, que vês as verdadeiras faces, que sabes aqueles que queres por perto.
Fala, pequena. Deixa-os espantados com o teu discurso coerente. Deixa-os deslumbrados com o que já viveste, sendo tão pequena e frágil. Deixa-os a rirem-se das tuas piadas ditas em voz baixa e acriançada. Fala, pequena, fala. Encanta-os. Deixa-os boquiabertos. Deixa-os com saudades.
Grita, pequena. Pergunta porque é que é tudo tão branco. Grita-lhes que não devia ser assim! O branco não devia estar associado ao inferno. Nem mesmo ao inferno congelado. Grita-lhes, pequena, grita-lhes. Mostra-lhes que o que tens a dizer, dizes na cara. Mostra-lhes que mesmo não sabendo tanto como eles, que não sabendo tanto da vida, tu dás as duas faces mas não te calas. Que narizes empinados a ti não te afectam, apenas as injustiças que vês.
És tão adulta quanto eles, pequena, e mesmo assim continuas a ser a mesma criança que ainda ontem os cativou com um sorriso e que já amanhã os abandonará com abraços, colos e beijos.


Pulga

agosto 26, 2009

Delícias@(santa!)terrinha


Caminho em direcção aos latidos.
- Prenhudinha, já estou a ir!
Acalmo a minha cadela, agora ainda mais linda grávida.
Olho o horizonte e falo para o ar, como faço tantas vezes.
- Adoro aquele diluir, em que o laranja do poente passa a azul e depois a cinza e logo será negro. As bandeiras do milho a beijar o céu... Adoro esta santa terrinha de fim de mundo!
Dou comida à Riona Maria (sim, a minha "prenhudinha" chama-se Riona Maria.), dois ou três afagos e volto. Também o meu jantar me espera.

Borrega

P.S.- "This is a dedicatory song":
Pipa: pla amizade incondicional e verdadeira.

Créditos:
imagem:
Depósito d'água e fim de tarde na Azinhaga (roubada do hi5 da Pipa!)

agosto 25, 2009

Mulher por destino (maldade feminina)


Um dia, mais um dia igual a todos os outros deste último ano.
Apanha o autocarro que a leva para aquela fábrica que a oprime, que a amarga.
Zum-zuns e ruge-ruges...
Demasiada mulher junta!
Demasiada maledicência e corte e costura!
Carinha redonda, salpicada de bonitas sardas, olhos escuros, tristes ali dentro, sorriso meigo.
Os seus 19, perto dos meus, parecem 25 e, esses 19, já lhe deram uma filha. Uma pequena menina risonha é o que a motiva a estar ali, a aguentar aquele ambiente.
São máquinas e mais máquinas, barulhentas e movidas a escárnio e maldizer, movidas a facadinhas nas costas.
Julgam-na pela filha que teve aos 18, pintam o carmo e a trindade, colam-lhe rótulos tal como etiquetam caixas.
Enerva, tira do sério!!!
Quem pensam que são?
Estas pessoas, aos domingos, beatas e devotas fervorosas, enchem os bancos da igreja. É "Graças a Deus" e "Ámen" dum lado para o outro. Hipocrisia pura! Cinismo!
Cristo disse que, quem nunca tivesse errado, atirasse a primeira pedra.
Pelos vistos, ali, todos são santos! Devia enviar uma carta ao Vaticano a pedir a beatificação de toda a santa fábrica!
São todos santos do pau oco, com telhados de vidro. Não são mais que ninguém!
Dia após dia, mês após mês, há um ano, atura isto.
Está farta!
Engravidou aos 18, tem uma linda menina de um ano, não se arrepende. Arrepende-se sim de estar ali, onde a mentalidade do "só acontece aos outros" reina, onde todos lhe riem pela frente e mordem por trás...

É menina, é mulher, é filha e é mãe...

Borrega

P.S.- dedicado à Verónica. Alguém com quem gosto de trabalhar e que gostei muito de conhecer!

'Casperzinhos'


De andar apressado e olhos baixos, esquece-se do mundo que a rodeia. Esquece-se de onde está. Um encontrão de lado, desperta-a. Reconhece aquelas costas que tantas vezes viu afastarem-se sem um único pedaço de remorso. Reconhece, mas não se lembra a quem pertencem.
Espreita por cima do ombro. As costas pararam e voltaram-se. Reconhece aqueles olhos que tanta vez brilharam na presença dela. Reconhece aquele sorriso que tanta vez foi ela que causou. Reconhece aquele rosto que tanta vez pousou nas suas mãos. O nome ainda lhe falha.
‘Olá. Boa tarde. Sou eu.’
Reconhece aquela voz que tanta vez lhe murmurou delícias, que tanta vez a consolou. E naquelas mãos, que tantas vezes a aconchegaram e suportaram o peso de dois, nessas mãos, vêm aquelas velhas memórias. Aquilo que para ela esquecer, e sem coragem de deitar fora, depositara naquelas mãos.
O nome já não interessa. Os anos não passaram ali. A alegria de estar ali, na presença daquela personagem é incalculável. A dor será insuportável, prevê ela. De facto, à muito que já não se agoira nada de bom, e o facto de fantasmas amigáveis voltarem a aparecer não são bons presságios.
Sem pensar duas vezes, retoma contacto. Troca os números de telefone e quase que exige de volta metade das memórias.
Seja como for, qualquer que seja o azar desta vez, irá ser apenas outro fantasma que se torna de carne e osso na vida dela.


‘I am selfish, I am wrong
I am right, I swear I'm right
Swear I knew it all along’
Vindicated – Dashboard Confessional



Pulga

agosto 22, 2009

Simplicidade d'um recomeço


Caminhava perdida, ostra cuja pérola tinha sido subterrada por um poeirento amontoado de desgosto e descrença.
O vento,com leves brisas, foi destapando, foi preparando-a para o recomeço.
Esse mesmo vento trouxe-lhe realmente a resposta: a simplicidade da Vida, a sua estrutura perfeita e tão bem pensada, estruturada...
Deus, Jesus, a Virgem e os Santos, todos se regalam ao novo (re)brilhar da pérola, porque a fé, porque o Céu é uma pérola de luz, de luz que, incessante, brilha...
Sorriso leve no rosto, Oriana é, de novo, ostra que reluz...
Oriana sabe que a sua luz é a luz do trabalho árduo pelos sonhos, pelos que ama e que é na su'alma e na destes que tem de ter os pilares da Vida...
A Vida é um todo, para todos...
Oriana e a ostra de pérola luz que guarda n'alma...

Oriana...

Borrega

P.S.- This is a dedicatory post:
Jojo: PARABÉNS!!
Lau: não são precisos quais quer comentários...
Claudinho: és o meu Claudinho e eu adoro-te
Zé: pla luz, pla Vida, plos momentos simples e naturais...
Nuno: porque tenho saudades... muitas... um beijo na testa
Cátia: porque a nha madrinha é a luz dos meus olhos...
Margarida: porque ler e ver o teu recomeço fez muito por mim...
e por fim, porque, de certa forma, todos os meus post's são teus
Seamesa: eu AMO.TE e o resto é só conversa...


"Pérolas" (aka Créditos):
Música: Joan Osbourne - "One of us"
Imagem: Margarida Pombo (Uma pessoa linda, que tenho o prazer de conhecer. Irreverentemente única em:
http://www.fotolog.com/leve_como_1vento/ e http://olhares.aeiou.pt/theotherside)

agosto 21, 2009

Galeria


"If you (...) only want to walk with me a while across the sand
I'm your man"

O impessoal espaço do café já se diluiu com tantas visitas, com tantas noites.
Ele, sentado numa das mesas com sofá,mistura-se entre as pessoas, cujos contornos se confundem por entre a cortina de fumo vindo dos cigarros e das colunas.
A voz, quente como o fumo, povoa o local, relaxa-o. As pontas dos cigarros são como faróis por entre o nevoeiro cinza...
Pega no bule e verte o seu chá vermelho, enquanto os seus olhos voam entre a porta e as flores amarelas sobre a mesa.
O cheiro do chá adoça a voz que, vaporosa, continua a dançar das colunas, envolvendo os tímpanos de todos aqueles faroleiros...
Ela deve estar quase a irromper pela porta...
Ela deve estar quase, quase ali...

Borrega
[texto fictício, baseado em pedaços de momentos reais]

Créditos:
Música: Leonard Cohen - "I'm your man"

agosto 16, 2009

... Para sempre ...



Os Amigos são para sempre

Estejas longe ou não
Sempre que nos quiseres ver,
Basta abrires a porta do teu coração






Alegria
[14/06/04]

agosto 15, 2009

Corpos... Almas...


Corpos suados...
Dois corpos abraçados.
Almas tocam-se em lábios colados, ora ternos, ora ávidos...
Ele e ela, ela e ele...
Corpos, dois corpos, feridos, exaustos, cansados.
Ela e ele, ele e ela...
Almas, duas almas, feridas, inquietas, menineiras.
Corpos... Almas...
São gente... Gente...
Gente cansada, que, naquele abraço, se entrega ao descanso dum momento quebrado pela (necessária) lucidez.
Eles, são corpo!
Eles, são alma!
Eles, são gente!
Eles, são eles...
E deles, ela só sabe aquilo que não é!

Borrega

P.S.- Obrigado... (2€, tu dás-me Vida!)

Créditos:
Música:
Maria Creuza - "Se o amor quiser voltar"
Gal Costa - "Só louco"

agosto 14, 2009

Menina


A menina corria colina abaixo, braços abertos, queria voar...
A menina queria voar, voar, voar...
Simplesmente voar...
A menina queria voar, voar, voar...
Mas esse dia (nunca) há-de chegar!

Borrega

Créditos:
Imagem: Sara Tavares

Música: Sara Tavares - "Voá Borboleta" (Obrigada Swadharma!)

Pequena na areia (Redemption ptII)


"(...) o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança."

(António Gedeão, "Pedra Filosofal")


Oriana dança e rodopia, leve criança voluptuosa. Os contornos do corpo são intermitentemente delineados pelo leve e fino tecido da túnica branca, que o vento acaricia e lhe protege a pele do sol.
Os pés cantam, ao chapinharem na água salgada que beija a areia.
O vento, ora lhe estende os cabelos, ora os põe a cobrir-lhe as risonhas feições redondas.
Oriana rodopia...
Eles dois deitados na areia...
Oriana ri...
Colo, beijos, abraços e carinhos...
Oriana pula...
Alguém toma um café e fuma um cigarro...
Oriana é cor...
Conversas de boca no ouvido, que se sobrepunham ao "mundo" circundante...
Oriana cresce...
Oriana sente...
Oriana Vive...

"Para mim és redenção!"

Deitada no escuro, extenuada pelo longo dia de trabalho, de olhos nas memórias, sente-lhe o cheiro envolto no do mar.
Um sorriso rasga-se na cara de Oriana.

"I'm still alive!"

Borrega

P.S. - Toque n'alma@Costa
Curativos n'alma@S'amesa (Amo-te mesmo muito nha trenga!)


Créditos:
Imagem: Camila Pitanga
Música:
Glória Gainor - "I will survive"

Pearl Jam - "Alive"

Bob Dylan - "Blowin' in the wind"

agosto 10, 2009

Deslumbre...


“Tu és eternamente responsável por aquilo que cativas.”
(raposa ao Principezinho.)

Borrega

Nota: A propósito de estar consciente, de saber dizer «Não.», de se ser honesto com as pessoas, deste post do Black&White...
Aviso: Os perigos quando se cativa são tantos...


Dream'n'Life


Sentada no puff, tenho-o no colo, tão sereno, tão meigo e leve.
Falamos de sentimentos, de Amor, de Vida...
Vou dando pequenos tragos na minha bebida, a "música" está alta, as luzes do bar iluminam-nos em arco-íris, misturam-se com a luz do luar e o som do mar.
Pouso o copo vazio e encosto-lhe os lábios ao ouvido, única maneira de me fazer ouvir:
"O Licor Beirão é quente, é como um sonho: doce, desce e vai-te aquecendo, elevando. A Amêndoa Amarga é como a vida: amarga-te a garganta para depois 'ta adoçar. Altos e baixos, tal como a vida."
Ele assente e sorri-me com aquele olhar de menino... E rouba-me um beijo com travo de sonho...

Borrega

Um dia...

... hei-de ir a Évora, este ano.
... farei as visitas que tanto prometi.
... dedico-me à pesca do ananás.
... o Sangoku voltará a sorrir para mim.
... vou ser como o bimbo, fresca e fofa.
... vou deixar de fazer click.
... vou achar aquelas calças do pijama.
... vais comer aqui, na minha mão.
... voarei com o vento.
... serei genial!
... acabará o dia e chegará a noite.
... voltarei a desenhar.
... descobrirei o que está no fim do arco-íris.
... serei iluminada.
... a vida fará algum sentido.
... direi não convinentemente.
... vou beber dois pacotes de sumo.
... acabarei esta lista.


Pulga
[lista feita com a Borrega]

agosto 09, 2009

Voa


Corria. Cada passo mais leve que o outro. Já não corria, voava. As pessoas desviavam-se, mas já não eram pessoas, eram coisas. Eram objectos que ficavam parados enquanto ela se movia. E ela voava. Virou à direita e à esquerda, porque apesar do que lhe diziam, o caminho não era sempre em frente, tinha as suas curvas.
Pelo caminho libertava os seus suspiros. Murmurava frases inaudíveis. Imaginava o que lhe deviam ter dito. ‘A pessoa de quem você gosta irá surpreendê-la positivamente.’ ‘Irá ter alguns percalços até encontrar o seu verdadeiro amor.’ Lengalengas de feirantes. Porque voava ela assim? Não sabia. Mas queria saber. Queria saber mais que todo o mundo. Queria ter o conhecimento na palma da mão.
Relembrou como entrou ofegante. A mulher, vestida à oriental, fê-la sorrir enquanto recuperava o fôlego. Por alguma razão, fizera-la lembrar-se dele.
‘Sente-se’, sugeriu-lhe, enquanto lhe puxava uma cadeira.
A música subiu de tom. Era estranha, não era aquele tipo de música que estava à espera ali.
A mulher examinou-a em silêncio. Então ergueu-se da cadeira e murmurou-lhe ao ouvido:
‘Wake up, sunshine.’
Ela ergueu-se e correu. Voou. As palavras e a música seguiam-na. Repetiam-se com maior intensidade.
Aí apercebeu-se. Deixou de voar. Deixou de sentir a brisa a apertá-la. Era agora o calor que a aconchegava. Era a música que a fazia correr. Era aquela voz que a fazia voar. E nesse momento sentiu o sabor dos lábios que derrotavam qualquer esforço. Abriu os olhos apenas para os voltar a fechar. Todo o conhecimento que precisava estava agora colado a si.


‘Would you like to take a walk with me
My mind it kind of goes fast
I try to slow it down for you
I think I'd love to take a drive’
Congratulations - Blue October


Pulga


agosto 03, 2009

Lágrimas à deriva


Se querem que vos diga , tenho saudades de chorar’ sussurrou aos peluches, ‘não aquele choro sentido, em que cada lágrima derramada é uma tentativa de alívio a qualquer emoção. Também não quero lágrimas que me banhem a face como uma reacção ao clima… Não.’
Olhou em redor. A luz iluminava-lhe o quarto, via as coisas fora do sítio. Tinha saudades de entrar no quarto, sentar-se na forma castanha disforme, recostar-se de várias maneiras possíveis, enquanto o mp3 cantava memórias. Aí sim, o sorriso invisível no escuro, força as lágrimas enquanto os lábios se movimentam ao ritmo da letra melódica, e o corpo é violado por toques, cheiros, imagens, memórias fantasmas.
Hoje correu para o quarto. Arrumou-o rapidamente. Tinha de ser rápida. Escreveu um pequeno bilhete. Apagou a luz e sentou-se no puff de olhos fechados, enquanto as lágrimas corriam descontinuamente. Adormeceu assim.
Na manhã seguinte, o bilhete amarrotado continuava na mão cerrada. Abriu-o:


‘Your eyes are now opened
To a world where madness craves
To a world where hopes enslaved’

Tremble For My Beloved - Collective Soul



Pulga

"Rock'n'roll...

... it's just Rock'n'roll!"


O comboio pára...
Levanta-se meio trôpega, pede licença ao tipo ao seu lado para passar. Está a dois lugares da porta...
Chega-lhe...
Não abre!
Corre para a outra ponta da carruagem, a porta está aberta, abre a que dá para a rua, vislumbra terra...
Ele começa a andar...
Ela atira-se...
Caras de espanto, estupefacção...
Coração num tamborilar frenético, tremores nas pernas, na alma, na parte racional. Choques a perpassarem cada célula, cada organelo, neurónios em Apocalipse...
Saltou! Sentiu... Sentiu-se como se um riff poderosíssimo de guitarra lhe trespassasse o corpo, o rasgasse, como se estivesse dentro da guitarra enquanto ele lhe era arrancado...
Não o volta a fazer!
Vai ficar-se por sentir os riffs através dos headphones...

Borrega
[texto verídico]

Créditos:
Música:
AC/DC - "Rock'n'roll ain't noise pollution" (frase do titulo retirada daqui)
"Highway the hell"
"Rock'n'roll train"

Só (comboio)


O comboio passa, estação a estação recolhe e distribui gente.
Gente que tem uma história, gente que ama, que ri, que chora.
Gente!
Quem é esta gente?
Quem sou eu no meio desta gente?
Sou mais uma entre as gentes.
Sentada, olho a linha férrea, espero pela ligação, pelo próximo comboio que, por caminhos que não conheço e que me hão-de correr pelas janela, me levará para mais perto de casa. Me distribuirá, juntamente com outras gentes, para eu apanhar a minha última ligação...
Mas quem são estas gentes, neste vai-e-vem, nesta viagem?
Para onde vão?
De onde vêm?
De onde são?
Quantas destas gentes, que me vêem aqui sentada, se interrogarão como eu?
Quantas ainda estarão demasiado presas ao tacanho, ao mesquinho?
Quantas choram por um amor que partiu?
Quantas pensarão o que será o almoço?
Quantas terão para quem voltar?
Olho para dentro, para dentro de mim...
Sou tantas coisas. Poderei eu mesma definir-me e dizer: «Eu sou Oriana, estou de viagem de regresso a casa, sou uma pessoa "assim e assado".»?
Não posso dizer!
Não posso ser taxativa.
Contudo, de mim posso dizer que vem da alma, que vem da essência, posso dizer que sou Oriana!
E deles?
Eles são gentes, com caminhos, marcas deixadas pela vida, com histórias, com laços, carinhos, amarguras, saudades, dores...
Eles são gentes que caminham sós, que cruzam o meu caminho, mas nenhuma destas gentes é a minha gente, nenhuma é um ponto vermelho na multidão de cinza amorfa que me ladeia e, agora, embala para dentro do comboio.
Eu sou... Oriana em viagem...

Oriana...

Borrega


P.S.- aos meus pontos vermelhos na multidão de cinza amorfa...

Créditos:
Música: Soul Asylum - "Runaway Train"

The heart of...

"Não é possível reconquistar a inocência ou a virgindade."
James Hetfield (Metallica)

Ele galopa-lhe sofregamente no peito...
Ela dá-lhe palmadinhas suaves, tentando acalmá-lo.
Ele grita-lhe que lhe dói, ele grita-lhe:
- Oriana, porque me fazes isso, porque me retalhas? Porque me divides?
Cara de lua cheia, a boca é areal a ser banha pelo mar de lágrimas que chora, ela responde-lhe numa ironia soluçada:
- Queres que te diga? Queres mesmo?
Ele assente num contorcido esgar de dor.
- Porque amo, porque para mim amar é dar-me a quem amo!
- Houve um tempo em que acreditava que o amor não doía... Mas depois tu amaste, deixaste-me sentir aquela imensidão e retalhaste-me... Trouxeste um bocado novo, coseste-mo, ligaste-te, deste-te...
- Coração, eras mais feliz naquela indolor ignorância inocente? - perguntou-lhe Oriana, por entre afagos calmantes.
- Não... Obrigada, por vezes é preciso que nos digam o que ja sabemos.
Amo-te...
Oriana!

Oriana...
Borrega

Créditos:
imagem: Patti Smith