outubro 31, 2009

Flash Back Guitar

Oriana é sereno corpo que descansa sobre os lençóis, torneada pelos matutinos raios de sol.
O som vaporoso do chuveiro mistura-se com o aroma a cravo que enche a divisão.
Oriana apenas respira, calmo corpo ensonado, calmo corpo pelo carinho embalado.
A guitarra, único resistente da longa noite, continua tocando, continua cantando, continua apelando.
A guitarra continua acordada para defender o desejo da pequena que está na cama descansada, pelo cansaço e pela noite tombada.
E a voz que toca repete, pela gazilienta vez naquela noite, "Stay with me... Let's just breathe...".
O chuveiro pára.
Pouco depois a música também.
Debruça-se sobre ela, encosta os lábios ao seu ouvido:"Oriana..."
E num arrepio que a faz tolher-se em posição fetal, Oriana acorda.
Olha-o como fera encurralada, mas ao sentir os braços dele envolverem-na, relaxa...

Oriana...

Borrega
Créditos:
Música: Pearl Jam - "Just Breathe"
Imagem: Eddie Vedder

outubro 30, 2009

Estados

Entra cabisbaixa, num barulho de cara muda.
Cortou qualquer conversa com ele à entrada, mas com ela não é o que quer fazer.
Atira-se à cama para não se desmanchar. Dói lá dentro, no fundo, na ferida que ele lhe fez (começa a acha-la crónica) e noutras quantas.
Pões-se em causa daquela maneira que detesta, aquela em que se reduz a nada!
Ouve-a, sabe que ela esperava mais daquele regresso. Junta forças para falar, invoca-as, contudo não chegam e cede ao cobarde apelo do corpo cansado: dormita!
Acorda, vê-a muda, cara fechada, cansada, sentida. Pega nas coisas e sai.
Ela não tem noção em como a muda presença dela era tanto.
Está sozinha e chora, desabou, porquê? Não sabe bem, não tem certezas. Mas também não tem forças para pensar nisso agora. E ela foi embora, e ela precisava dela, e ela falhou...
Quando ela voltar, tem de a abraçar, têm de falar, de desabafar...
Precisa dela, neste momento, mais do que comer...

Borrega

P.S.- À nh'irmã com Carinho, Amor e um pedido de desculpas.
Amo.te

Nota: Já não é ele que me magoa, mas o que a ferida que ele fez deixou a descoberto.

Isn't it ironic


A música estar a tocar e acabar a bateria do mp3 no preciso momento em que estou a cantar Graveddiger à porta do Instituto de Medicina Legal?


[ou se calhar é só mórbido.]





Pulga

Nota: Gravedigger - Dave Mathews Band and Dave Mathews

outubro 29, 2009

Nostalgic News

Borrega em estágio.
Com saudades.
Contudo, estou numa casa fenomenal, de pessoas muito bonitas, na verdadeira concepção da palavra. Com defeitos e qualidades, mas sobretudo simples e verdadeiras, que é o que interessa!
Hoje, durante a minha pausa para o lanche, vi o Huguinho... As saudades bateram bem forte...
Tenho saudades.
Estágio... Escrevo depois... Estou a gostar... As vezes pareço uma vara verde em dia de vendaval... Mas estou a tentar aproveitar tudo ao máximo...

Borrega


outubro 25, 2009

Extremos



Chama-lhe hipócrita, quando tudo o que lhe queres chamar é traidora.
Chama-lhe cínica quando ela se tenta passar por pudica. Grita a todo o mundo que ela não é tão pura quanto se faz passar. Grita a toda a gente que ela é cínica, quando o que queres realmente dizer é que ela tem uma mente demasiado aberta.
Chama-lhe iletrada quando ela te diz que não percebe o que queres dizer. No fundo, apenas lhe queres chamar ignorante por entre risos.
Chama-lhe rameira, ir para a cama com vários homens nunca foi solução. Mesmo que não sejam muitos, nem que não lhe paguem. Mesmo que seja o mesmo por meses a fio, ensina-lhe que o amor existe e não são só palavras deitadas para fora.
Usa extremos com ela, para ela perceber que não é uma pessoa de extremos, nunca o foi. No final de gritares com ela, de lhe atirares tudo à cara, aproxima-te dela e abraça-a. Ampara-a na sua queda, pois ouvir as verdades é esgotante, e ela é demasiado frágil para ainda se aguentar de pé.
Pulga

Quedas d'alma

Frio... Tanto frio... Frio...
Medo... Tanto medo... Medo...

Solidão... Tanta solidão... Solidão...

Oriana... Tanta coisa... Mulher...



Está sentada, só, desesperadamente assustada, no 4ºandar do seu prédio. Oriana finge que estuda, aliás, Oriana tenta sofregamente estudar!
Está escuro lá fora, escuro como cantos da sua alma que não tem visitado, que ainda não tem força suficiente para iluminar.
A mesa onde estuda abeira-se duma janela, sem qualquer vista onírica, sem qualquer lírica possível.
As músicas vão passando, tentando animar o frio ar cortante, o medo pungente, a coragem nascente, as lágrimas irrompentes. As músicas bailam-lhe nos lábios e nos pés desritmados... Chora!
É menina pequena e amedrontada, é alma mal amada. As cicatrizes têm-lhe doído, se calhar é de vir aí chuva intensa, inverno rigoroso. Se calhar é temor do sentimento que, por vezes, se agiganta nela.
Como lhe apetecia um abraço, quente, qual lareira no inverno, um chá, um beijo, um livro lido ao seu ouvido, um poema cantado, mais um beijo roubado.
Oriana sacode a cabeça, atina as ideias, guarda tudo no seu cantinho e fecha a porta à chave.
Foca, vai estudar, de novo!
Olha a noite, sorri: "When I frist met you, you were larger than life!", diz para ela.
Ainda é assim, agora voltou a ser assim.
Oriana e os seus debates e quedas internos.
Oriana, desejos, frio e medo.


Oriana...

Borrega


Créditos:
Música:
Metallica - "Enter Sandman"
(entre muitas outras que foram passando)

C'est la vie

" Devemos habituar-nos a isso: nas mais importantes encruzilhadas da vida, não existe sinalização."
(
Ernest Hemingway)


Então, caímos.
Esfolamo-nos todos.
A vida é feita de quedas.

Borrega

P.S. - "This is a dedicatory song":
A todos os que me estendem a mão quando caio, com um carinho especial.

Créditos:
Música:
Green Day - "Time of your life"
imagem: Mariana Ximenes




outubro 21, 2009

Diferente


A música repetia-se milhares de vezes na cabeça dela. 'A vida é boa, a vida é genial… '

‘Estás diferente este ano, que se passa?’
Pegou no ice tea limão e sorriu-lhe.
‘Estou?’
‘A sério. Estás mudada. Conta-me tudo!’
Gargalhou.
‘Não temos tempo para isso… Mas sim, acho que mudei, acho que me estou a adaptar a isto outra vez.’
‘A isto?’
‘A isto. À vida. Às pessoas. A estas pessoas. Parecem-me novamente estranhos. Poucos reclamam a amizade que tínhamos. É-me estranho, pois eu quero essa mesma amizade. Eu quero os meus risos de volta!’
‘Percebo-te.’
‘Mas olha para nós. Quase não falávamos e aqui estás tu a ouvir-me. A queixar-te do mesmo que eu! É isso que me é estranho. As pessoas que me tinham em conta, tornam-se bons amigos. As pessoas que eu tinha em conta, desapareceram.’
Olhou fugazmente o relógio.
‘Raios! Estou atrasada!’
‘Amanhã, à mesma hora?’
‘Que tal mais logo?’
‘Soa-me muito bem!’
Sentia-se responsável pelo sorriso nos lábios dele. Sentia-se leve. Sentia-se mudada. Sentia-se capaz de mudar o mundo… nem que fosse por 5 minutos, enquanto ele andasse nos eixos.


Pulga



Nota: Life is Good - LFO

outubro 20, 2009

Black Sheep Things*


Porque tenho dias assim, 'né Pulga?
Porque me fez logo lembrar: "Só tu não me atiras pedras."
Porque te Amo!
Porque... M de magro, M de meu! xD

Borrega

Créditos:
Imagem:
daqui

outubro 18, 2009

Caída

Quase sem olhar corta a mecha de cabelo que tem na mão, fá-lo uma e outra vez, fá-lo repetidas vezes. Fá-lo.
Um rasto de cabelos vem desde a casa de banho até perto da cama, onde acaba perto duma tesoura cansada.
Cabelo agora curto, desgrenhado, ela está caída sobre o colchão, vencida pelo cansaço adensado pelas lágrimas.
Chorou pelo cabelo que, numa acesso louco, cortou e pelo cansaço que brigava com as suas pálpebras.
Estúpido cabelo que enfraqueceu com ela por culpa de se entregar inconsequentemente.
Estúpido cabelo de menina ingénua, de criança luminosa, que não bate certo com o soturno farrapo errante que é neste cansado momento.
Arrastou-se descaracterizada até à cama, arrastou-se na esperança dum abraço e apenas deu com o colchão vazio.
Acorda e enfrenta a evidência do colchão vazio.
Agarra o cabelo.
Suspira d'alívio.
Comprido e encaracolado como sempre.
Ela entra e sorri-lhe.
Ela está lá, como sempre. Vai para perto dela, abraça-a.
Ele entra, bandeja com pequeno-almoço.
Olha-a complascente.
Beija-a na testa.
A febre passou...

Borrega

Créditos:
imagem: Patti Smith

Lareira

Está uma grossa e fofa manta estendida no chão duma sala, contemplando a lareira. Nela arde uma bonita fogueira, uma belissima fogueira de tépidas e ferventes labaredas.
Sob a manta dois corpos enlaçados, dois corpos pegados, sorriem levemente. O corpo dela é a pérola, o dele, qual ostra, protege-a.
Olham ambos pela janela, quase tapada, quase alvamente cerrada, pelos flocos que se vão aconchegando uns nos outros.
Dois corpos caídos numa manta, descansando-se no calor mútuo. Dois meninos a neve admirando. Dois se amando no calor duma fogueira. Dois...

Borrega

P.S.- Pulga obrigada pelo pc...

outubro 11, 2009

Mais uma pegada ^^

A 'Out Of The Blue' deu-nos o nosso terceiro selo!! Multimilhões de obrigadas!!


Passamos às regras:

1. Postar o link de quem indicou
2. Postar o selo
3. Passar o selo a 5 blogs perfeitinhos :D
4. Responder às seguintes perguntas:

Mania:
Ler; All Stars
Pecado Capital: Gula
Melhor Cheiro do Mundo: Old Spice; Floresta
Se o dinheiro não fosse problema: Ia comprar umas calças; Deixava a Borrega ir comprar as calças
História de infância: Brincar com os rapazes; Subir às àrvores com os meus primos (era uma macaca, depois evoluiu para Borrega)
Habilidade como dona de casa: Cozinhar; Limpar a casa
O que não gosto de fazer em casa: Varrer; Lavar a loiça
Frase Preferida: '
Indian, indian, why did you die for? Indian say: "nothing at all." - Jim Morrison'; 'I can't hear you... The music is to loud'
Passeio para o corpo: Parque Corgo; Santarém
Passeio para a alma: Tejo; Almada
O que me irrita: Falta de escrúpulos
Frases ou palavras que uso muito: Gosh!; Tem dias...
Palavrão mais usado: Vai-te foder!; Caralho!
Vou aos arames: quando me pisam os calos; quando me tentam desacreditar
Talento oculto: Sudoku xD; Surpreender as pessoas
Não importa que seja moda, eu não usaria nunca: Leggings; Mini-saias
Queria ter nascido a saber: o que sei hoje.

E os blogs escolhidos são:

Pulga e Borrega


Nota: A vermelho são as respostas da Borrega, a verde as respostas da Pulga e a preto é aquilo em que concordamos :D

outubro 10, 2009

Desafio


1. Colocar uma foto minha
2.Escolher um artista ou banda favorita.
3.Responder às questões ,que se seguem, utilizando títulos de canções do tal artista ou banda escolhida.
4.Passar o desafio a 4 pessoas.






És homem ou mulher: “LA Woman”
Descreve-te: “People Are Strange”
O que é que as outras pessoas pensam a teu respeito: “Wild Child”
Como descreves a tua última relação: “Love Her Madly”
Descreve o estado actual da tua relação: “Take It As It Comes”
Onde gostarias de estar neste momento? “When The Music's Over”
O que pensas a respeito do amor? “Hello, I Love You”
Como é a tua vida? “Strange Days”
O que pedirias se apenas tivesses um desejo? “Break On Through”
Escreve uma frase sábia: “Waiting For The Sun”


Borrega


Créditos:
Banda: The Doors
Foto: in Rock Café (Coimbra), by Pulga

outubro 09, 2009

Desafio


1. Colocar uma foto minha
2.Escolher um artista ou banda favorita.
3.Responder às questões ,que se seguem, utilizando títulos de canções do tal artista ou banda escolhida.
4.Passar o desafio a 4 pessoas.





És homem ou mulher: “Somebody”

Descreve-te: “It’s just me”
O que é que as outras pessoas pensam a teu respeito: “Independently Happy”

Como descreves a tua última relação: “Blue Sunshine”
Descreve o estado actual da tua relação: “What If We Could”
Onde gostarias de estar neste momento? “18th floor balcony”
O que pensas a respeito do amor? “Weight Of The World”
Como é a tua vida? “Let It Go”
O que pedirias se apenas tivesses um desejo? “The Answer”

Escreve uma frase sábia: “Libby I’m Listening”


Pulga
Foto - Rock Café, Coimbra
Banda - Blue October

outubro 07, 2009

Trabalhos

Cai exausta sobre a poltrona. A cabeça lateja-lhe, a garganta está irritada, sente-se um farrapo.
Tem de se levantar e sentar-se à secretária que tem na frente, tem trabalhos para fazer, matéria para estudar, está a afundar em stress e pressão. Mas ainda não, ainda é cedo, são apenas nove da noite, o jantar mal chegou ao estômago ainda.
Estende a mão, alcançando a garrafa na mesinha à sua esquerda. Abre-a e verte no cálice o suficiente para dois ou três goles, pousa a garrafa e, de caminho, pega numa pedra de gelo. Queima-lhe na pele quente, mergulha-a no cálice.
Lá fora, no escuro que vê pelas portadas escancaradas da janela, chove a potes. Traga o cálice.
Vê-os tão nitidamente, a ela e a ele, a subirem aquela calçada, em direcção à descida para as residências. Ela, envolta no abraço dele, aconchegada debaixo do seu braço, contra o seu flanco quente. Ela envolve-lhe a cintura com o seu pequeno braço, escutando-o: "Tu tentas salvá-los da morte, eu quero que eles morram felizes.".
Sorri-lhe, "Verdade.", responde.
Ribomba um trovão e um relâmpago rasga o negro véu da noite. Bebe os dois tragos restantes duma só vez.
Mais um ribombar, mais um rasgo de onírica luz dilaceram a serena noite chorosa. Tomando isto como sinal, ergue-se vagarosa e toma o seu lugar à secretária: é hora de trabalhar para aprender a fintar a morte.


Borrega

Créditos:
Música:
The Doors - "Riders on the storm"
Trovoada
Imagem: Angelina Jolie
Bebida/Sabor: Licor Beirão
Motivação: um cansaço desesperado, uma ânsia receada e uma auto-confiança latente...

outubro 06, 2009

Abacate

Numa mesa de aspecto rústico, centro duma cozinha igualmente rústica, numa casa ecléctica, está, num prato branco, meio abacate guardado por uma faca.
Na sala, de paredes salpicadas de quadros quentes, um vinil gira beijado pela agulha, bradando a todas as divisões da casa a sua melodia.
Ao lado desse gira-discos, balançando ao som da melodia, embora um pouco desritmada, uma mulher descalça gira entre o sofá e a estante, repondo os livros limpos aos seus locais. Os seus carnudos lábios estão igualmente atarefados, entre o seu murmúrio musical e as dentadas no suculento meio abacate da sua mão direita.
Os estores estão baixos, com apenas pequenas brechas, por onde a luz entra e dá um ar de melancolia calma à divisão. Velas ardem à direita da mulher, escadas a cima, entre-caladas de óleos d'essências que perfumam o ar.
Último livro, última dentada, fica-lhe o oval caroço castanho entre os dedos. Aperta-o como se fosse uma pérola e, d'olhos fechados, com a língua sugando o doce que restou nos lábios, baila alegre por entre os móveis em direcção à rústica cozinha.
Longas mãos de pianista rodam a maçaneta da destrancada porta da cozinha. Entra e é envolto naquele inebriante aroma, sorri ao ver o meio abacate, larga as chaves que tem na mão direita, enquanto lhe pega com a esquerda. Segue o musical aroma, adivinhando-a na sala, dançando no seu cativante desajeito.
Continua a rodopiar d'olhos cegos, conhece os cantos, sabe que está a chegar à cozinha. Embate num peito tamborilante, um destro braço enlaça-a por completo. Antes que diga o que quer que seja uns lábios, que sabe belos e doces, beijam os seus.
Um beijo sorrido, como adora rir quando beija!
Os olhos luzentes dele riem-lhe, os dela reclamam o meio abacate. Riem.
Eleva-se nos bicos dos seus pés descalços, chega-lhe aos ouvidos, "Bem vindo!". Pega-lhe na mão direita com a sua esquerda e giram de novo até à sala, deixando-se cair num dos enormes puffs que circunda a baixa mesa da sala.
Perdem-se num beijo e o meio abacate mordido e o lindo caroço assistem caídos no chão!

Borrega

Créditos:
imagem: pedaço da capa do álbum homónimo da banda Pearl Jam
aroma: abacate

Morte, enterro, luto... Vida


Oriana mal se via por entre a confusão do quarto que arrumava.
Porque raio deixava sempre o caos instalar-se antes de arrumar? Cansava-se sempre o dobro!! Tanto papel, livros, fotocópias, jornais. Jornais e mais jornais!
Oriana deambulava, atabalhoadamente graciosa, por entre os "escombros", tentando reerguer a organização. Dum caderno cai-lhe uma folha escrevinhada, pega, sorri triste por reconhecê-la... Recosta-se na parede necessitada de tinta do velho quarto, lê alto, para que o caos a ouça:

"Hoje volto a escrever para falar de algo que já escrevi, para escrever de ti. Já não és só "Qualquer Coisa"... Primeiro estranhei-te e agora, agora entranhei-te de tal maneira em mim que sinto saudades de apenas te ouvir respirar. Da tua respiração a agitar o meu cabelo.
Volto a escrever porque, por cada dia que não o faço, sinto-me a ficar oca, a perder a chama, tal como quando tu não estás.
Antes eras algo que eu estranhava, que era inédito na minha vida corriqueira e monocromática. Eras o meu "Qualquer Coisa", também porque não gosto de rótulos, mas agora não posso fugir de te colar um, um que te torna parte de mim, uma simbiose que espero que continue perfeita.
Depois de ela ter subido na nuvem com "Qualquer Coisa" muita coisa mudou, mas as minhas mãos continuam nas tuas. E sinto a tua falta mais do que queria ou devia. Agora preciso de ti."


Não tinha data. Lembrava-se vagamente daquele tempo. Tinha gaguejado um pouco, devido às lágrimas matreiras que lhe insistiram em lavar a cara.
Amei-te tanto, amava-te tanto!
Já não te amo!
Sim, o meu pequeno e cicatrizado coraçãozinho ainda guarda lá aquele amor bonito, enorme, golíaco, que te tive. Mas já não o sinto senão como recordação feliz de fim excruciante. Já não és tu o principio e o fim, preenchendo tudo pelo meio. Pulsar do meu desejo sem fim, banhado por uma devoção, um carinho enlaçados em amizade e amor incondicional.
Naquela noite, e em todo o tempo que se seguiu até há pouco tempo, mataste-me! Um pedaço de mim morreu contigo e em ti, naquele teu amor que era labareda crepitante daquele nosso incêndio...
Fitou a folha, de fontes já estanques.
Enterrei-te, já te enterrei, já te fiz luto, agora... Agora, Vivo!

Até Sempre

Oriana...



Borrega
(23/09/2009)


P.S. - RIP, in memory: this is a dedicatory song, better, this will always be my frist love song: "I walk beside you"
(cresci... aprendi...)


Créditos:
Imagem: Avril Lavigne
Música: Da Weasel - "Força"

outubro 03, 2009

Mudar


‘Olá’ disse numa voz baixa, rouca, arrastada e alegre.
Encarou-o com surpresa. Milhões de perguntas a assaltavam, mas limitou-se a encará-lo.
Ainda te lembras de mim? Ainda te lembras das promessas que me fizeste? Ainda te lembras dos risos soltos comigo? Ainda te lembras de mim? Aquela que não vergou uma única vez ao teu lado? Aquela que te acordava só com um beijo? Aquela que agarravas o mais próximo que conseguias de ti? Ainda te lembras de mim, ou nunca fui esquecida?
Não conseguiu verbalizar as perguntas. Sorriu-lhe e fugiu para a sala de aula.
Apesar de tudo, foi uma visita aconchegante. Pena ter sido tão breve. Pena não terem tema de conversa. Pena serem eles a reconhecerem. Pena o sentimento de perda ter-se abatido nela. Pena as saudades serem enormes. Pena sentimentos bem enterrados terem voltado ao de cima.
Escrevia no caderno com fúria. Queria poder sair dali. Correr para o parque e caminhar com Alegria. Queria voltar a caminhar ao lado de alguém que a apertava e não largava enquanto não soubesse o que realmente se passava. Alguém que no final lhe roubaria um sorriso ténue e um abraço. Alguém que, quando ela se afastasse, lhe gritasse: ‘Põe-te fina!’
E então rabiscou ao de leve no caderno: ‘Há coisas que me matam, outras que me tornam mais fortes e ainda existe aquelas (coisas) que existem sem eu saber. Hoje, mais que outro dia qualquer descobri que sou uma trapezista, sem rede. Mas porque tenho os pés no chão, porque não voo, nem tenho asas (embora quisesse muito), sabes que mais? Vou mudar numa semana.’
Então ergueu a cabeça e sorriu. Soltou o lápis com um baque. Pois, ia mudar. Na próxima vez que ele lhe surgisse à frente, não iria fugir, iria respirar fundo e esclarecer tudo. Na próxima vez que estivesse com Alguém iria abraçá-lo assim, espontaneamente. Ia mudar. Ia deixar de fugir.


Pulga