novembro 27, 2009

Rain

A menina corre em direcção ao seu miradouro, relva molhada sob as solas.
Olha, contempla, ri.
E um candeeiro acende, ilumina-lhe a mente, arranca-lhe um sorriso escancarado.
Meia luz tepidamente quente alumia os corpos, reluz nas costas dele, que, caído, repousa no peito dela. As mãos dela deslizam-lhe pelas costas suadas, beijando-lhas com as pontas dos dedos.
Quão bom é estar assim.
Taquicardias.
O menino sai debaixo do abrigo, caminha para céu aberto, braços escancarados, rodopia tentando prever quando parará de chover.
Olhando pela janela, por entre as frestas da chuva imensa, ela tenta ver um par de meninos de mãos dadas caminhando pela(s) estrada(s).


(***)

"Look at the stars,
Look how they shine for you,

And everything you do,

Yeah they were all yellow,

I came along
I wrote a song for you

And all the things you do

And it was called yellow"


Borrega

Créditos:
Música:
Guano Apes - "Rain"
Coldplay - "Yellow"

Imagem: daqui

novembro 26, 2009

Actualidade(s).Realidade(s)

Há pessoas que nos "dão" outras pessoas...
Há momentos que nos "dão" [e marcam] pessoas...
E depois há a Vida...
Ela "dá-nos" pessoas...
E ainda melhor, por vezes, ela torna-se pessoa.


As correntes podem arrastar-nos, podem distender o aperto das nossas mãos, mas não te largo da mão, recuso-me: não vou largar a minha vida da mão!

AMO.TE

"She's my person.
If I murdered someone she'd be the person I'd call
to help me drag the corpse across the living room."
(Cristina Yang, Grey's Anatomy 3.16)















Borrega
"Graceless lady, you know who I am
You know I can't let you slide through my hands"
(The Rolling Stones - Wild Horses)

Posso?


Posso ir-me embora? Posso agir como se não me importasse? Posso pôr-te de joelhos enquanto me imploras para ficar? Posso pôr-te a chorar? Posso? Porque no final é assim que ficarás enquanto eu caminhar para longe. E é de longe que estarei a assistir e a debater-me se deverei ou não envolver-te apenas para teres uma presença física. Só para saberes que já não estou lá como estava, só para saberes que já não sou quem era para ti, mas mesmo assim ainda te abraço e te consolo.
"Take your hand and walk away"
Lonely Day - System Of A Down

Pulga

novembro 23, 2009

Destino



"Sou basicamente aquilo que vêm em mim - sorrisos e brilho nos olhos. Acreditam? Pois se acreditarem não são mais que enormes ignorantes, ou extremamente inocentes. Acredito mais na primeira opção, pois nem quem nos fez o foi, e o Mundo tira qualquer réstia de pureza.
Pois bem, sou mais que sorrisos e brilho nos olhos. O brilho já quase se eclipsou com a desilusão e os sorrisos já são automáticos sem qualquer sentimento. São mais as preocupações que me fazem. Não são problemas sérios, são aqueles que arrasto por anos, aqueles que outro alguém teria resolvido numa questão de minutos. Portanto, hoje é um grande dia a presenciar, pois hoje... Hoje é o dia em que todos os problemas são resolvidos...", escreveu ela. Ergueu-se e dirigiu-se ao ombral, encostou-se. Vestida de branco quase se camuflava com as paredes. Esticou os braços, com um banque surdo o lápis caiu-lhe da mão, e ela começou numa corrida desenfreada. E então... Saltou. Saltou para o nada, saltou para ninguém."


- NÃO! Ela não pode saltar !
- Ora, porque não?
- Nenhum problema se resolve assim! Nunca ouviste que "podes fugir, mas não te podes esconder" ?
- Verdade... E então que tal...


E lá estava ela, por um fio, com o seu destino a ser discutido por duas crianças num pedaço de papel. E lá estavam eles a discutir a vida dela como se de qualquer outra personagem ficcional se tratasse. E nenhum deles tinha a mais plena noção.
Pulga

Casinha de chocolate


Ouve o costumeiro "click" da velha fechadura a anunciar que a porta está aberta.
Tem o cheiro do tabaco emaranhado na roupa, o dele entranhado no corpo. Na boca o agridoce travo da amêndoa amarga.
Outro "click", porta trancada, pendura as chaves no sitio do costume, deixa a mala sobre a mesinha do hall. A roupa vai sendo deixada pelo caminho, como um rasto para que Gretel possa encontrar a saída do seu pequeno cubículo aconchegante.
Chega já nua à aparelhagem, enche o quarto com o som daquela voz, com aquele sotaque dum inglês particular, um inglês com cunho d'autenticidade. Balança numa dança sozinha, encaminhando-se para a cama, puxa os lençóis para traz e deita-se.
Olhos perdidos encaram o tecto, pintando-o ao som da música e de todos os pensamentos que a assaltam, por mais banais, por mais insignificantes que sejam.
Disseca, elaciona, equaciona, interioriza.
Oriana respira fundo, suspira com força.
Demasiado entranhado, pensa.
O gato, que por ali cirandava, como que percebendo-a carente, aninha-se-lhe no peito.
Afaga-o, agradecendo-lhe.
Fecha os olhos embalados pela promessa que a música apregoa à noite:
"Wild horses couldn't drag me away
Wild, wild horses, we'll ride them some day"

Adormece, só, na sua casinha de chocolate.

Oriana...

Borrega
Créditos:
Música:
Rolling Stones - "Wild Horses"

Post-it amarelo#1

novembro 17, 2009

Histórias de lareira

Pega-a no colo.
Até parece fácil, apesar de ser pouco mais pesado que ela.
Aperta-a bem contra o peito e ela reconforta-se com aquele tamborilar incessante e vigoroso do coração dele.
O sofá está perdido olhando as crepitantes labaredas da lareira e chama-os para se lhe juntarem.
Ele, como se ela fosse porcelana, senta-se cuidadoso. Ela torna as pernas dele almofada e estende-se, na sua pequenez, pelo sofá.
Ele pega num livro e começa a lê-lo.
A voz dele acaricia-lhe os ouvidos, mima-lhe a alma, então Oriana ri, com um dos seus sorrisos de criança feliz, ouvindo história d'encantar.

Oriana...

Borrega

Créditos:
Imagem:
daqui

novembro 15, 2009

"Quanto é que dura para sempre?"

"Que seja eterno enquanto dure."
Vinicius de Moraes



"- Que quer dizer cativar?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa criar laços.
- Criar laços?
- Exactamente, disse a raposa. Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo. Se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol."


"O essencial é invisível aos olhos."

Borrega

P.S.- Aos meus laços...
(Um dia, eu e a Sofia vamos ler "O Principezinho" juntas!)

Créditos:
Livro:
"O Principezinho", Antoine de Saint-Exupéry
Titulo: by Karina
Imagem: Leandro Oliveira

novembro 14, 2009

A menina dança?


Estava na sua quietude naquele monte desarrumado. Seleccionou as músicas e colocou-as no máximo, e num piscar de olhos, ela e as coisas, as coisas e ela dançavam pelo quarto fora.


Não sabe a razão de tanto entusiasmo, mas que seja, que exista, é sempre mais bem-vindo do que a tristeza. Os sapatos nunca foram precisos para dançar, dança descalça que foi assim que aprendeu sozinha, é assim que se sente mais feliz e livre.


A música parou, ela pára para descansar um pouco. De repente a sua inocência está de regresso enquanto ela volta a subir para cima da cama.


E quando batem á porta e ela responde com o seu ‘Sim?’ alegre, entra o seu cavalheiro e pergunta-lhe: ‘A menina dança?



Pulga

novembro 13, 2009

Porque ficas?

O espelho foi rachado por um pequeno punho, agora em sangue.
Toalha enrolada na mão, Oriana olha-se agora nele, apesar das rachas.

- Porque ficas? Porque te dás em proporções desmedidas? Porque não te compreendem? Porque não te estendem a mão a tempo? Porque te deixam cair?


Respira fundo.

- Porque erras? Porque magoas? Porque desiludes?

Um gemido corta o ar. Sangra agora da outra mão, o espelho jaz em cacos pelo chão.
E escorregando pela parede abaixo, Oriana olha-se pelo que sobra.



Oriana...

Borrega
Créditos:
Imagem:
Drew Barrymore

novembro 09, 2009

Valeta

E, numa valeta imunda, duma rua cheia de gente demasiado cheia de si para a ver, ela está caída.
Maltratada, abandonada, espancada.
Corpo caído, o longo cabelo por todos sendo pisado.
Alma maculada de nódoas negras.
Nódoas negras deixadas pelas palavras vis que lhe disseste e que foram como murros.
Caída, esvai-se em sangue e ninguém vê, ninguém estende a mão e a levanta do chão.
No chão, na valeta imunda, a água castanha é tingida de vermelho.
Abandonada, deixada ali só, sem maneira de estancar aquela hemorragia.
Caída, pobre moça, dói, agonia...
Dor pungente, pontadas dilacerantes.



E, numa valeta imunda, duma rua cheia de gente cega, ela jaz.
Já está fria, já passou.

Borrega

Créditos:
Imagem:
daqui

novembro 08, 2009

Trocada por uma Ambulância xD

Em honra duma Amiga...


"Eu não quero saber da intimidade dele, só quero come-lo."
(pela mesma Amiga, em relação a um churro)


- Troca-me assim por uma ambulância! Eu não posso competir com ela.
- Realmente, ela tem muito mais curvas e é mais veloz. Ah, e tem 4 rodas!!!! Não tens hipóteses.

Borrega
(e com amigas como eu é assim xD)

Créditos:
@SãoMartinho'09



Post-it cor-de-rosa#3

novembro 07, 2009

Anywhere... far away from here

Naquele casa tenebrosa escutava-se apenas o barulho da água a correr e o choro da mulher mergulhada na banheira.
Aquela casa tenebrosa, naquela terra de normas e gente obsoleta, faz-lhe tolher a alma e o discernimento.
Aquele maldito sitio dá-lhe cabo dos nervos, turva-lhe a vista de lágrimas, adensa-lhe a imaturidade pungente.


Naquela casa tenebrosa escutava-se apenas a mulher a chorar, ferida, magoada por ter de magoar.

Borrega

Hey Dear God! Can you hear me? It's me...

A canção outonal que reina lá fora é de um vento frio, nostálgico, triste.
Eu estou na cozinha, entretida com tudo e com nada, cismando comigo mesma, batendo com a cabeça, reflectindo.
Apetece-me descomunalmente algo que não sei o que é! Lá ando eu com esta necessidade de algo que não tenho, mas que também não sei bem o que é.
Sou, talvez um pouco ingrata, sou humana. Já sabes como somos, orgulhosos ingratos com a mania que sabemos tudo.
Vou apaziguar os ânimos com um banho de emersão ao som da tua guitarra d'Outono, ao ritmo das tuas vermelhas folhas a beijarem o chão.
Talvez o pôr do sol m'aqueça a alma, talvez ela lembre, talvez ela esqueça, talvez perceba, talvez adormeça.

Borrega

Créditos:
Título:
by Pulga
Música: qualquer uma com a voz de Bob Dylan

Post-it cor-de-rosa#2

Isn't it ironic#2


É assim muito mórbido e mau que eu esteja mortinha por ver as pessoas no centro de saúde?
É assim muito mau da minha parte?
Como diz a Lilly, qualquer dia é ver-me, de guarda-chuva, à chegar de mansinho à beira das pessoas e a rasteira-las.
E prontos, passo os dias a desejar enchentes tipo tsunami no CS de Santa Marta!

Borrega
Créditos:
Imagem: Hugh Laurie

novembro 03, 2009

Delineando (in)definições

"Semeia um acto, e colhes um hábito. Semeia um hábito, e colhes um carácter. Semeia um carácter, e colhes um destino."
(Charles Reade)

*****

Perco-me nos contornos indefinidos dos minutos, das horas, dos dias, dos meses, dos anos que passam.
Todos eles, de lápis e borracha, de régua, esquadro e compasso em punho, vão modelando e recriando os meus contornos.
Uns ampliam-me, outros reduzem-me. Uns põem-me duma rectidão extrema, outros numa elíptica de cores, na maioria a preto e branco, talvez com uma pitada de cinzento.
E assim vou andando, aos altos e baixos, por rectas, rotundas, curvas sinuosas.
Cirando por aqui e por ali, toco outros limites, outros contornos, as minhas ferramentas de desenho, por vezes, entretêm-se a marca-los.
Acho-me na indefinição das linhas do meu carácter, do qual afirmo o que não sou, o qual alimento de quedas e mais quedas, de me levantar e continuar, umas vezes com mais e outras com menos vontade.
Conheço-me pela verdade dos irregulares contornos das minhas lágrimas, pelo curvilíneo sorriso de criança.
Conheço-me pela alma que me espreita pelos olhos.
Cirandando lá vou caminhando, lá vou tentando, de lápis e borracha na mão, desenhar o meu mundo, pintá-lo a mais do que preto, branco e cinzento.
Dou-lhe cor a alma, dou-lhe cor a risos, dou-lhe cor a Vida.
De lápis e borracha delineio o completo infinito indefinido que sou.

Borrega

Post-it cor-de-rosa

novembro 01, 2009

"I feel the need..."


Elas deitam-se em sentidos oposto naquele chão que todos pisam.
Elevam-se.
São pontes.
São passagens, tal como o chão d'onde se ergueram.
Naqueles corpos e naquelas almas que se contam e contam pessoas.
E durante aquele punhado de segundos que, no máximo, se resumirão a um minuto, os seus caracóis beijam o chão que todos pisam e chamam-lhe de céu, e ela é livre.
Já que ela, puxando os músculos ao limite, apenas tenta chegar mais a cima, parecer mais uma ponte, uma passagem.
Já que ela só quer chegar aquela imagem da menina redondinha de bochechas coradas a saltar para o colo do Pai.
Já que ela só quer continuar a agarrar esta imagem de infância, com ela do lado, deitada no sentido oposto, tenham 8 ou 80...
Porque para muitos é chão, para elas é passagem!

Borrega


Créditos:
Filme:
"As minhas adoráveis ex-namoradas"
Música: "I don't want to talk about it"

Título: inspirado numa frase do filme "Top Gun": "I feel the need... The need for speed!"