setembro 22, 2010

Lust's Struggle [Hunted Down]

{Está uma mulher, encostada a um muro, que olha uma paisagem onde um homem está a trabalhar. Quando os seus olhos se cruzam com a figura masculina ela estarrece... Pensava-se ali sozinha...}

Olha-o em esforço, o suor banhando-lhe o corpo. E arranca-se-lhe um suspiro... Ou terá sido um uivo de desejo latente?
Ela olha queda o corpo grotescamente maior e mais forte que o seu. Alto, de ombros tão largos que lhe fazem lembrar um forte. Num braço apenas a tomaria e, tem a certeza, mesmo qu'ela lutasse e barafustasse, a deitaria abaixo...

{A mulher abana a cabeça, incrédula. Murmura: «Que raio de pensamento para se ter...»
O homem, cansado, pára um pouco o seu trabalho. Encara a paisagem imensa da solidão que o rodeia. Então os seus olhos encontram os dela e a solidão quebra.}

Olha-a como um predador encara a presa. Perto dele ela é simplesmente tão indefesa, um pedaço de carne fresca.
Apetece-lhe saltar-lhe à jugular, ouvir aquele uivo gemido antes dela ceder à sua superior capacidade física. E, depois de subjugada, brincar com ela naquele estado inebriado em que a asfixia e os múltiplos toques a deixariam...

{Ela está desconcertada com a força brutal dos olhos dele. Quer baixar a cabeça, sente-se exposta demais, mas não consegue. São olhos hipnotizantes!}


Continua a olha-la. A ideia obstina-o e contra o muro já não vê só a presa-mulher, ouve uma taquicardia sonora, vê uma ânsia, uma ponta de pânico. Avança para ela!

{«Ele vem lá!», e, quando este pensamento aflora, o tempo pára!
«Estou em pânico, será que ele percebe?
Porque estou eu em pânico?
Vou "morrer".
Ele que venha. Sim! Ele que me aperte a jugular com as suas mandíbulas!

Estou suicida?!?!

Não... Quero-o, apetece-me a sua superioridade predatória!!»
O tempo volta a correr! }


O corpo dela está esmagado contra o muro.
O corpo dele sente a carne do dela.
Os uivos orquestram o ar.











Borrega

P.S. - "This is a dedicatory song": Lau {para sempre}

(Texto fictício)

Créditos:

Música:
Ben Harper - "Sexual Healing"
Caro Esmerald - "That Man"
Muse - "Stockholm Syndrome"
Imagem: daqui

setembro 15, 2010

Chegadas

Olha como o quarto está arrumado!
Sim, arrumado.
Olha como ela está com um ar alegre, lavado!
Sim, alegre.
Diferente?
Não, apenas um revivalismo do antigo Eu, com umas roupas renovadas.

[Cachopa caleidoscópica.]

Aliás, sim! Diferente.
A diferença está que agora dorme sozinha e contente. Que a solidão vem e ela a beija na boca, em vez de chorar que nem louca.
Lá está: o antigo Eu forte e diferente, que achava alegria naquilo que aos outros chorar fazia!

[Cachopa caleidoscópica.]

Olha como o quarto está arrumado!
Olha como ela está com um ar alegre, lavado!

Sim, é que a solidão tem tanta coisa e tanta gente, tanto tempo e vaguear de'mente.
Ela voltou, a solidão. Que estava ausente, mas eu até gosto dela presente...


















Borrega
(06/09/2010)

Créditos:
Imagem: daqui

setembro 06, 2010

Noite sem Norte

- És uma merda! Fizeste merda!

Oriana está a ser ditatorial consigo mesma e sabe disso.
Não são os mexericos nos corredores que a constrangem, mas sim a vergonha que tem de si mesma neste momento.

- Por um momento quis não ser tão consciente, quis não ser tão eu... Fiz merda!
- Oriana...
- Não adianta, não vai ser com palmadinhas na cabeça que isto vai lá. Mandei às urtigas as coisas em que acredito. Magoei-me a mim mesma... Burra de merda! Infantil! Imatura!
- Oriana, já foi... Já passou.
- Dói...
- Está viva, é óbvio que dói. Tu auto-retalhaste-te!

A Consciência assume agora um tom ainda mais severo que o dela.

- Porque raio fiz merda?
- Tu sabes. Estava a doer, mas não o suficiente. Agora é agoniante, tira-te o sono, sentes-te uma merda, recuperarás melhor. - Hesita. - Espero...
Este erro não muda a pessoa que és, vai-te sim fortalecer.
- Não me sei perdoar.
- Pode ser que desta aprendas a fazê-lo, era importante sabes?!
- Olho para trás e não me reconheço naquilo, não me revejo.
- Obviamente que não trenga. Querias ser alguém que não és, por momentos foste... Foi uma merda e sentes-te uma merda porque tu estás bem como és! Now move on! Aprende com isto e não tenhas medo de pedir ajuda...

Oriana suspira, com a mão sobre o peito afligido...

- Fiz merda! - suspira - Paciência, isto quer é dias passados.


Oriana...

Borrega
(01/03/2010)

setembro 01, 2010

A menina que n'ã[o fu]mava

{Estavam ele e ela numa sítio sem tempo nem era, em desconhecida e deserta localização.
Ela e ele estão
acompanhados pelo silêncio, mas ela zanga-se com o silêncio e decide mandá-lo embora, mesmo não sabendo como o quebrar. Então diz-lhe:}

- [D]á[-me um ci]garro.
Dá-me!...
- Mas tu n'ã[o fu]mas!
- Pois não, mas dá-me, que quero muito tê-lo.
- Toma, mas não o estragues, que depois quero, aliás, preciso [a]*[fu]mar!!

{Ela e os seus parêntesis e entre linhas! Consumia-lhe a cabeça! Estaria ele a entender bem aquele subito pedido? Estaria ela mesmo a apelar pelo seu colo? Ou só queria mesmo um cigarro? É verdade que ela não fuma, mas gosta de bater tabaco... Talvez seja só isso que ela quer... Teria ela entendido a picardia que ele incutira na sua resposta?}


- [D]á[-me um ci]garro!
Dá-me...!

-Mas tu n'ã[o fu]mas!
{...s.u.s.p.i.r.a...}
Devias!

{Galga a distância entr'eles. Abraça-a.
Ela, sem reacção imediata, só consegue pensar em como a baunilha do tabaco lhe adoça a roupa duma forma tépida.}


Tens a pele macia, a alma [c]a[l]tiva 'fri[d]a! Teus olhos [, teus carac]*[s]óis!

{Ela solta-se, tal qual bicho-do-mato, arisca qu'é. Assusta-a [car]*[n]inho.}

- Dá-me só o [a]*[ci]garro.
to [r]*[d]evolvo.
- Mas tu n'ã[o fu]mas!
- Que [sab]es tu de mim?
[A]*[Fu]mo sim!
Passiva [!]...

{Cai de joelhos, punhos contra o chão.
Uiva:}


- [A]*[Fu]mo[-te] sim!

{Curva-se. Ergue-a do chão, com o cuidado de quem tem em mãos a mais frágil e fina porcelana.}

- Toma [l]á [o ci]garro[-te]!
Que s[ei]*[ou] eu de ti?
O mesmo que [sab]es de mim: que n'ã[o fu]mo [não sem ti!].
- Dá-me tu,
[D]á[-me tu um ci]garro a mim!


{Beijam-se...}

Borrega

P.S.- "This is a dedicatory song": Sis'

Créditos:
Música: Johnny Cash - "One"
{simplesmente porque a voz deste senhor me enamora e a sua versão desta canção tem mantido os meus ouvidos seus reclusos}
Imagem: daqui