outubro 21, 2010

Ao estilo do facebook .


[... e bem ofendida tenho a dizer]
Pulga

outubro 19, 2010

Mellencamp, leia-se: Carta à Alma


Este Corpo que vêem é vaso da nh'Alma. É mutável a ritmo diferente do dela e a Consciência esforça-se por não se perder entre o ritmo citadino do Corpo e o country rock duma Alma de viola em punho.
E quando este Corpo dói do cansaço e do alucinante vai-e-vem das responsabilidades atiro-o para uma cama d'olhos vendados. Ele geme de dores nas costas, lá bem no fundo da espinha, contorce-se. Arranja, a custo, aninho e nas pálpebras fechadas vê a Alma, menina à varanda, com voz rouca, a cantar as suas baladas.
O Corpo chora.
A Alma toca.
A Consciência tenta racionalizar o choro.
O Corpo alaga e desmorona ao som d'Alma.
Ele chora a distância da Alma, ele chora o facto de, naquele nojento e oportunista ritmo citadino, não a verem nele, tatuada nas entranhas, motor último da sua individualidade incompreendida.
Era tão mais fácil quando tu, Consciência, eras menina como ela, inocente e sem macula. De feridas só tinhas os típicos joelhos esfolados de correres com ela pelos meus prados inteligíveis. Era mesmo muito mais fácil, suportável, quando eu não ligava nenhuma, quando simplesmente me estava a marimbar para as tendências, expectativas e opiniões.
Mas crescemos, eu e tu, por ela. Porque, pelo menos ela, tem de continuar menina de viola country em punho, tocando para nós. Tocando o nosso hino de resistência à demência social maioritariamente instalada que incentiva à facada nas costas e ao espezinhar do próximo.
O Corpo e agora a Consciência choram, olhando a menina de viola.
A Alma, essa, ri, sempre de dedos nas cordas, é que o mal do crescimento está à espreita e quem canta seus males espanta! Ela canta, ri, brinca, mantêm-se menina essência: Oriana...
Eles choram.
A música dela abraça-os, acarinha e conforta-os das entranhas!

Oriana...
Borrega

Créditos:
Música:
John Cougar Mellencamp - "Jack and Diane" e "Hurt so good"
Imagem: daqui

outubro 18, 2010

{Rápidas carícias dos instantes volúveis}

O dia já ia alto quando foi acordada com um beijo terno nos seus lábios adormecidos. O corpo, antes lassamente adormecido ao seu lado, estava agora sobre ela, olhando-a com toda a ternura que se possa imaginar espelhada no mar dos seus olhos e a tentar dar-lhe o mais calmo despertar possível...

Retribui-lhe com um beijo cálido e apaixonado...

[Epitáfio ao texto Ela e "Qualquer Coisa"]

Borrega
(2008/09??)

Créditos:
Imagem: daqui

outubro 15, 2010

Bicho Anti-Social

Pega no casaco a correr. Meu Deus, está tão atrasada. Não que alguém vá notar, mas é tarde, é tão tarde...
Tens moedas?, pergunta retoricamente. Eu tenho aqui. Já não é importante, murmura.
Pois não, já não é importante. Seguiu em frente, olhando para trás. Agora está na hora de olhar também para a frente. E aqueles trocos que guardou como tesouros, nunca tiveram o mesmo significado de quem deu para quem recebeu. Foram estimados, mas agora é altura de tratá-los da mesma maneira.
Sai a correr para a rua. Estou atrasada! Onde estão?, resmunga ao telefone. A resposta é rápida e clara. Que seja, nem lhe apetecia sair de casa. Uns acenos ao longo do caminho, em alguns até prolonga o momento, mas depressa lá está.
Estás aqui !, salta de alegria e acena entusiasticamente. Um abraço rápido e um pouco embaraçado. Aparte destes abraços nada resta para contar.
Não queria estar ali, mas valeu a pena. Está decidido, a partir de amanhã declara-se bicho anti-social...

... Pelo menos até à próxima mensagem que lhe diga 'estás atrasada'

Pulga

Dança de Balcão -
Virgem Suta

outubro 10, 2010

Inocência

Naquele dia, era o perfume da nostalgia que lhe ajeitava os caracóis e lhe comprimia o peito.
Chegou perto dele que, por entre a confusão do jantar, estava sentado à mesa e disse-lhe:


- Lembraste? Há dois anos meteste-me em cima do balcão. Eu não sabia que quem estava em cima do balcão tinha de tirar a roupa. Era tão inocente.


Ele tem aquele sorriso maroto mas complacente espelhado no rosto. Diz-lhe calmamente:

- Tu ainda és.

Naquele momento ele tirou-lhe, nem que por breves instantes, o peso que lhe oprimia o sorriso.

Obrigado.

Borrega

P.S.- "This is a dedicatory song": Tiago

outubro 08, 2010

Gotejar

As folhas estão a cair.
A chuva também e, nas abertas que dá, correm ceifeiras para apanhar o milho. Correm os homens às vindimas.
É a melancolia que sopra vestida de vento, é a tristeza vestida de brisa...

Cai-te a lágrima.
Treme-te o peito.
Ajeitas o cabelo para que te cubra o leito do pranto.
Não te hão-de ver chorar e, se não virem, é mais fácil mentires que não o fizeste.

Chamam por ti...
Estás aluada, perdida naquelas escadas, não ouves.
Insistem. [Graças a Deus.]
Parou de chover.
Raia, tímido, um feixe de sol. [Tão ténue.]

Cai-te a lágrima.
Treme-te o peito.
Outra vez...

Deitas-te na tua cama.
Fechas ao de leve os olhos.
Está lá uma mão que tenta segurar algo.
O tremor dos dedos mostra que está ansiosa.
"Que é aquilo que espera pegar?
(...)

Uma ampulheta...

Tem a areia no fim."

E uma voz rouca diz-te:
"Chora que é hora, o ciclo chegou ao fim.
Chora que sou teu destino e te sentenciei assim."


Cai-te a lágrima.
Treme-te o peito.
Mais esta vez...

Acordas de face encharcada,
Alma alagada.
Ergues-te num pulo e sais à rua.
Está a chover.
Isso é bom, que assim ninguém vai ver o temporal do teu rosto.
"Ele disse ciclo, logo ele deve de, mais tarde ou mais cedo, virar a ampulheta.
Até lá choro, até lá é tempo de chover..."


Cai-te a lágrima.
Treme-te o peito...
[Enésima vez?!?]

O sol já raiou.
Tocas o rosto,
O teu choro parou.
[por enquanto...]

Borrega