dezembro 24, 2010

Carta#1

[Letters: #1, #24, #28, #29, and i think that's all...]



'Hey there, angel from my nightmare'...

... e é isso que realmente és: o anjo do meu pesadelo, a cor do meu preto&branco, a tábua de salvação no naufrágio.
Já nos demos tantos nomes, já nos apelidamos de tanta coisa, mas sabes bem que te descrevo numa só palavra: irmã .


Obrigado por me aturares, por me aceitares, por nunca desistires de mim...

Borrega

Créditos:
Música:
Blink-182 - "I Miss You"
Imagem: daqui

dezembro 12, 2010

Tape - The Soundtrack Of My Life

Side A - Pulga

Opening Credits:
A Man's Gotta Do - Dr. Horrible's Sing-Along Blog
Waking Up: Weight Of The World - Blue October
First Day Of School:
Razorblade - Blue October

Falling In Love:
Been Down - Blue October

First Kiss:
Enjoy The Silence - Depeche Mode

Fighting:
Further Deeper - Oi Va Voi

Breaking Up:
Chameleon Boy - Blue October

Driving:
Three Weeks She Sleeps - Blue October

Flashback:
Evil Angel - Rufus Wainwright

Mental Breakdown:
Independently Happy - Blue October

Getting Back Together:
D'Ror Yikra - Oi Va Voi

Prom Night:
So They Say - Dr. Horrible's Sing-Along Blog

Wedding:
Beautiful Child - Rufus Wainwright

Birth Of Child:
Stitches and Runs - Oi Va Voi

Final Battle:
Dear God - XTC

Death Scene:
If You Were Gay - Avenue Q

Funeral:
Retard Disfigured Clown - Blue October

End Credits:
Going To A Town - Rufus Wainwright

Side B - Borrega

Opening Credits:
Whitney Houston - I Will Always Love You
Waking Up:
Avril Lavigne - Too Much to Ask
First Day Of School:
Marilyn Mason - Sweet Dreams
Falling In Love:
AC/DC - You Shook Me All Night Long
First Kiss:
Depeche Mode - Personal Jesus
Fighting:
Avril Lavigne - Slipped Away
Breaking Up:
Dulce Pontes - Canção do Mar
Driving:
Police - Every Breath You Take
Flashback:
Stone Sour - Through The Glass
Mental Breakdown:
Jimmy Hendrix - Hey Joe
Getting Back Together: Bob Dylan - Blowin' in the Wind
Prom Night:
Pearl Jam - Just Breath
Wedding:
Rolling Stones - Sympathy for the Devil
Birth Of Child:
The Doors - Hello, I Love you
Final Battle:
Rolling Stones - You Can't Always Get What You Want
Death Scene:
Leonard Cohen - Waiting For The Miracle
Funeral:
Janis Joplin - Bobby McGee
End Credits:
Natalie Imbruglia - Torn


Pulga e Borrega

novembro 29, 2010

Odisseia#7


[Duas mãos firmes nos meus ombros, uns olhos quentes nos meus:
]

"Eu 'tou aqui ."

Borrega

Créditos:

Imagem: daqui

Da estupidez *

Quem é que fica acordado até às 4h, quando vai ter aulas no dia seguinte às 9h, apenas para ver nevar, quando não há neve?

Provavelmente já são saudades da blogosfera ser invadida por posts assim, assim, assim ou até assim**!


*Ou Do-Não-Fiques-Acordada-Quando-Não-Há-Nuvens
Ou até Do-Não-Acredites-Sempre-Na-Meteorologia
** Se bem que sem a Borrega e o Ilhéu isto perde toda a piada.


Pulga

Voando Diferente

Contorcida debaixo desta montanha de cobertores a nh'alma arrepia-se e quero ver um mar cálido jorrar de meus olhos ... mas eles estão secos, neles nada brota.

Era assim que estavas enquanto escrevias a Kafka?
[pergunta estúpida!]


Quanto muito estavas franzida debaixo de farrapos, doente, moribunda, trancafiada na holocaustica Auschwitz, sendo essas cartas teu arquejo de liberdade...
[estavas milenárias vezes pior!]

Também escrevo [escrevia?!] cartas, qual "Kafka à beira mar" ... mas tropecei a caminho da praia [!] .

Aqui estou eu nesta auschwitz em que os guardas são pessoas normais, livres [como eu, como nós!] que cingem com regras, etiquetas e aparências: algozes do politicamente correcto.
A Auschwitz onde estiveste era feia e cinzenta, a onde estou escrevo-a com "a" pequeno, chamam-lhe sociedade e tem a fronte engalanada. Floreada fachada que às minhas cartas deu [dá?!] facadas. [nisso bem aprendeu com a tua de "A" grande ...]

Como se escrevem cartas d'amor enclausurada num sítio onde não o há?
Onde ele é um
incomodo?
Onde ele é uma questãozinha de menor?
Como escreveste tu "amor" num dos mais hediondos sítios?
... Mas tu escreveste .
[!]



Eu rabisco cartas...
Um dia queria ser "Kafka à beira mar"...
Almejo cartas d'amor simples e vorazes ...
[Cartas d'amor] sobre o nada que é tudo ...


{Há umas semanas atrás, fui eu e o Padrinho ao UnderGreen e havia uma representação para recordar as vitimas do Holocausto. Representaram uma adaptação das cartas de Milena a Kafka, e eu amei.}

Borrega

P.S.- "This is a dedicatory song": Padrinho

Créditos:
Imagem:
daqui
Livros referidos:
Milena: The Tragic Story of Kafka's Great Love, de Margarete Buber-Neumann
Kafka à beira mar, de Haruki Murakami (nunca li o livro,referi o titulo porque é o que descreve mais correctamente uma imagem que tive enquanto escrevia...)

novembro 28, 2010

Odisseia#6



" We enter the world alone and we leave it alone and everything that happens in between we owe it to ourselfs to find a little company. We need help, we need support, otherwise we are in it by ourselfs. Strangers, cut off from each other, and we forget, just how connected we all are. So instead, we choose love, we choose life, and, for a moment, we feel just a little bit less alone."







Borrega


Créditos:
Quote: Ellen Pompeo, as Meredith Grey in Grey's Anatomy, seasson 4, ep.6: "Kung Fu Fighting"
Imagem: Zoe Kravitz

Música: Pearl Jam - "I Am Mine"

Sozinha, não só

- Estou sentada num sofá, sozinha. - escreve Oriana.

Suspira e retoma a escrita.

- Mesmo que estivesse num café apinhado, numa mesa com um grupo alegrado, continuaria sozinha. E isso não tem mal, isso é normal: estamos todos sozinhos, sozinhos na nossa individualidade, no nosso caminho. Estou sozinha, mas não estou só. Estar só é o verdadeiro problema. Estar só é não ter fé, é estar mergulhado numa agonia e num vazio golíacos. Estar só é não ter caminhos paralelos ao nosso, é não nos fazermos companhia a nós próprios, é abandonar-nos. Agora sei estar sozinha. Tinha-me esquecido como era, mas tu relembraste-me, reensinaste-me.

Fecha os olhos, relembrando-o. Encara a folha como se lhe visse os olhos ensolarados.

- Estou sentada num sofá, sozinha. Aliás, comigo.

Oriana...
Borrega
(19/03/2010)

Créditos:
Imagem: daqui

novembro 24, 2010

It's The End Of The World As We Know It




R.E.M - It's The End Of The World As We Know It [And I Feel Fine]

Pulga

novembro 14, 2010

#17 - A Letter to Someone From Your Childhood

António,

és das poucas pessoas, senão a única mesmo, a quem me vou dirigir pelo teu nome. Porque foi sempre o teu nome que me deu alegria. Deste-me as mais importantes lições, aquelas que ficam para sempre. Foi pena ter-mo-nos distanciado, mas é assim que eu sou, se não me agarram eu fujo - tu sabe-lo, das histórias que a minha mãe contava à tua.
A Aida... Ainda me lembro da véspera de Natal em que recebi aquela mensagem. E eu sem o teu número para te apoiar... Não sei se foste o meu primeiro amor, não tenho bem a certeza, mas sempre que me falam em amigos de infância és o primeiro. Aquele a quem eu me colava, no Jardim de Infância, para brincar aos carrinhos enquanto todas as raparigas estavam no outro canto da sala a brincar com os nenucos e às compras. Foste aquele que me instigou a ler, e que me incutiu o espírito de competição saudável. Não imaginas a quantidade de vezes que já me perguntaram 'Porque é que gostas tanto de ler?' e a minha resposta limitou-se a 'Porque foi a inveja que me fez aprender a ler'.
O cão mais lindo que eu já vi foi em tua casa que conheci. O teu pai deixava-me muitas vezes entrar e esperar por ti em tua casa. E eu esperava, lanchava com o teu irmão e depois o meu ia lá ter mais a minha mãe, e eles brincavam juntos com o cão. Já não me lembro do nome dele, mas tenho quase quase a certeza de que era Bolinhas, então por hoje será.
Sempre que vou a essa terra, nem sempre pelas melhores razões, passo em frente à tua casa, já não sei se ainda aí moras, mas atravesso sempre a estrada, quero-te ver, quero mesmo muito voltar a falar contigo, quero que me voltes a pegar na mão e levar-me ao Paulo, onde podemos comer as línguas de veado que eu tanto gosto.
Oh António, fazes-me falta rapaz. Mas também eu te falhei. Mesmo que hoje conseguisse falar contigo não seria a mesma coisa. Por isso vou deixar-te aconchegado nas minhas memórias de infância que é aí que estás bem, é aí que eu preciso de ti.
Pulga

novembro 13, 2010

Cacos de Porcelana

Pt.I - [...]

Apetece-me berrar, mas para alguém que já rebolou num mar de silvas é picuinhas berrar por meia dúzia de espinhos...
Mesmo assim apetece-me, apetece-me muito. Contudo não vou quebrar, não posso cair de novo. Isto é só o eco de saber que não te posso mais ter nos braços, não como já te tive. Que não posso mais ver os teus olhos a mudar para verde com a luz do sol, que não posso mais ouvir a tua voz no meu ouvido, sentir o teu cheiro...
Paciência!
Porque tu me relembraste (entre muitas coisas) que em mim tenho tudo o que preciso para me aguentar de pé.
É por isso que te chamei...
... Redenção ...

Pt. II - "Just because it felt good, doesn't make it right"

Todos nós temos pequenos prazeres mundanos. Beber um café e fumar um cigarro é um deles e enche cafés, e enche esplanadas, espreita a cada esquina, em cada rua.
Tu foste pensativo cigarro, fumado à janela enquanto eu bebericava o meu café. Despertaste-me do tropego sofrimento em que eu mergulhara. Tu deste-me Vida...
Não fizeste promessas, vieste e foste, tentando não magorar mais, não piorar o que já doí-a (doera?!?) por demais.
Plantaste Vida, deste-me força para [re]erguer o que tive de deitar abaixo.
Agora resta o agridoce sabor da cafeína e da nicotina...

Obrigada por tudo .


(farinha do mesmo saco)

Borrega
(23/02/2010)

#10 - A Letter to Someone You Don't Talk as Much as You'd Like To


Não sabes, nem sequer imaginas a falta que me fazes. Nem mesmo eu quando te escrevi nas fitas soube o quão era verdade aquilo que te disse, e aquilo que te ficou por dizer. Como foste tão importante para mim e como foste embora tão depressa...
Sabes quantas vezes te evoquei nas minhas memórias, apenas este ano? Imaginas quantas vezes te vi (e revi) de traje, agarrando na máquina fotográfica e um sorriso que, para mim, ia até às estrelas? Acreditas no número de vezes que te procurei a semana passada, mesmo sabendo que não estavas cá? Foram muitas, até eu lhes perdi a conta. E só te queria aqui, nem que fosse para um abraço rápido e aquele sorriso.
Hoje vou rever as nossas fotos, os momentos que estão por trás, e deixar o meu coração do tamanho duma ervilha. Hoje já disse-te as saudades que tinha tuas.

E sabes que mais? Enquanto praxo e me vêem perguntar pelos padrinhos, a minha resposta é sempre a mesma: 'Escolham bem. Porque ainda hoje a minha Madrinha é um orgulho para mim, apesar de não falar tanto com ela como gostaria'



Pulga

novembro 12, 2010

#3 - A Letter to Your Parents


Então aqui estou eu, em frente às folhas de papel. Já não vos escrevo há mais de um ano, e vocês nunca me escreveram. Mas ainda ontem falamos ao telefone.
Então aqui estou eu, embrulhada no casaco que me deste, Pai, e que ainda cheira a ti, Mãe. Mas em breve o cheiro vai-se esvair e o ticket de compra já o perdi vezes sem conta. São saudades.

Tenho saudades.

Pulga

novembro 07, 2010

#1 - A Letter to Your Best Friend


Há uns anos atrás esta carta não era para ti. Na verdade esta carta poderia ter ido para muita gente, mas nunca apostaria em ti. Mas é isso que demonstra que esta carta só te podia ter a ti como destinatária, não é? São muitas as lamechices já escritas e ditas, mas tenho mais um par delas para ti. Que numa altura em que as lágrimas secaram, já só consigo chorar à tua frente. Que apesar das minhas palavras se atropelarem umas às outras consegues sempre perceber-me. E por fim, que por muito errada que esteja apoias-me sempre.

Obrigado por teres insistido em conhecer-me.

Pulga

outubro 21, 2010

Ao estilo do facebook .


[... e bem ofendida tenho a dizer]
Pulga

outubro 19, 2010

Mellencamp, leia-se: Carta à Alma


Este Corpo que vêem é vaso da nh'Alma. É mutável a ritmo diferente do dela e a Consciência esforça-se por não se perder entre o ritmo citadino do Corpo e o country rock duma Alma de viola em punho.
E quando este Corpo dói do cansaço e do alucinante vai-e-vem das responsabilidades atiro-o para uma cama d'olhos vendados. Ele geme de dores nas costas, lá bem no fundo da espinha, contorce-se. Arranja, a custo, aninho e nas pálpebras fechadas vê a Alma, menina à varanda, com voz rouca, a cantar as suas baladas.
O Corpo chora.
A Alma toca.
A Consciência tenta racionalizar o choro.
O Corpo alaga e desmorona ao som d'Alma.
Ele chora a distância da Alma, ele chora o facto de, naquele nojento e oportunista ritmo citadino, não a verem nele, tatuada nas entranhas, motor último da sua individualidade incompreendida.
Era tão mais fácil quando tu, Consciência, eras menina como ela, inocente e sem macula. De feridas só tinhas os típicos joelhos esfolados de correres com ela pelos meus prados inteligíveis. Era mesmo muito mais fácil, suportável, quando eu não ligava nenhuma, quando simplesmente me estava a marimbar para as tendências, expectativas e opiniões.
Mas crescemos, eu e tu, por ela. Porque, pelo menos ela, tem de continuar menina de viola country em punho, tocando para nós. Tocando o nosso hino de resistência à demência social maioritariamente instalada que incentiva à facada nas costas e ao espezinhar do próximo.
O Corpo e agora a Consciência choram, olhando a menina de viola.
A Alma, essa, ri, sempre de dedos nas cordas, é que o mal do crescimento está à espreita e quem canta seus males espanta! Ela canta, ri, brinca, mantêm-se menina essência: Oriana...
Eles choram.
A música dela abraça-os, acarinha e conforta-os das entranhas!

Oriana...
Borrega

Créditos:
Música:
John Cougar Mellencamp - "Jack and Diane" e "Hurt so good"
Imagem: daqui

outubro 18, 2010

{Rápidas carícias dos instantes volúveis}

O dia já ia alto quando foi acordada com um beijo terno nos seus lábios adormecidos. O corpo, antes lassamente adormecido ao seu lado, estava agora sobre ela, olhando-a com toda a ternura que se possa imaginar espelhada no mar dos seus olhos e a tentar dar-lhe o mais calmo despertar possível...

Retribui-lhe com um beijo cálido e apaixonado...

[Epitáfio ao texto Ela e "Qualquer Coisa"]

Borrega
(2008/09??)

Créditos:
Imagem: daqui

outubro 15, 2010

Bicho Anti-Social

Pega no casaco a correr. Meu Deus, está tão atrasada. Não que alguém vá notar, mas é tarde, é tão tarde...
Tens moedas?, pergunta retoricamente. Eu tenho aqui. Já não é importante, murmura.
Pois não, já não é importante. Seguiu em frente, olhando para trás. Agora está na hora de olhar também para a frente. E aqueles trocos que guardou como tesouros, nunca tiveram o mesmo significado de quem deu para quem recebeu. Foram estimados, mas agora é altura de tratá-los da mesma maneira.
Sai a correr para a rua. Estou atrasada! Onde estão?, resmunga ao telefone. A resposta é rápida e clara. Que seja, nem lhe apetecia sair de casa. Uns acenos ao longo do caminho, em alguns até prolonga o momento, mas depressa lá está.
Estás aqui !, salta de alegria e acena entusiasticamente. Um abraço rápido e um pouco embaraçado. Aparte destes abraços nada resta para contar.
Não queria estar ali, mas valeu a pena. Está decidido, a partir de amanhã declara-se bicho anti-social...

... Pelo menos até à próxima mensagem que lhe diga 'estás atrasada'

Pulga

Dança de Balcão -
Virgem Suta

outubro 10, 2010

Inocência

Naquele dia, era o perfume da nostalgia que lhe ajeitava os caracóis e lhe comprimia o peito.
Chegou perto dele que, por entre a confusão do jantar, estava sentado à mesa e disse-lhe:


- Lembraste? Há dois anos meteste-me em cima do balcão. Eu não sabia que quem estava em cima do balcão tinha de tirar a roupa. Era tão inocente.


Ele tem aquele sorriso maroto mas complacente espelhado no rosto. Diz-lhe calmamente:

- Tu ainda és.

Naquele momento ele tirou-lhe, nem que por breves instantes, o peso que lhe oprimia o sorriso.

Obrigado.

Borrega

P.S.- "This is a dedicatory song": Tiago

outubro 08, 2010

Gotejar

As folhas estão a cair.
A chuva também e, nas abertas que dá, correm ceifeiras para apanhar o milho. Correm os homens às vindimas.
É a melancolia que sopra vestida de vento, é a tristeza vestida de brisa...

Cai-te a lágrima.
Treme-te o peito.
Ajeitas o cabelo para que te cubra o leito do pranto.
Não te hão-de ver chorar e, se não virem, é mais fácil mentires que não o fizeste.

Chamam por ti...
Estás aluada, perdida naquelas escadas, não ouves.
Insistem. [Graças a Deus.]
Parou de chover.
Raia, tímido, um feixe de sol. [Tão ténue.]

Cai-te a lágrima.
Treme-te o peito.
Outra vez...

Deitas-te na tua cama.
Fechas ao de leve os olhos.
Está lá uma mão que tenta segurar algo.
O tremor dos dedos mostra que está ansiosa.
"Que é aquilo que espera pegar?
(...)

Uma ampulheta...

Tem a areia no fim."

E uma voz rouca diz-te:
"Chora que é hora, o ciclo chegou ao fim.
Chora que sou teu destino e te sentenciei assim."


Cai-te a lágrima.
Treme-te o peito.
Mais esta vez...

Acordas de face encharcada,
Alma alagada.
Ergues-te num pulo e sais à rua.
Está a chover.
Isso é bom, que assim ninguém vai ver o temporal do teu rosto.
"Ele disse ciclo, logo ele deve de, mais tarde ou mais cedo, virar a ampulheta.
Até lá choro, até lá é tempo de chover..."


Cai-te a lágrima.
Treme-te o peito...
[Enésima vez?!?]

O sol já raiou.
Tocas o rosto,
O teu choro parou.
[por enquanto...]

Borrega

setembro 22, 2010

Lust's Struggle [Hunted Down]

{Está uma mulher, encostada a um muro, que olha uma paisagem onde um homem está a trabalhar. Quando os seus olhos se cruzam com a figura masculina ela estarrece... Pensava-se ali sozinha...}

Olha-o em esforço, o suor banhando-lhe o corpo. E arranca-se-lhe um suspiro... Ou terá sido um uivo de desejo latente?
Ela olha queda o corpo grotescamente maior e mais forte que o seu. Alto, de ombros tão largos que lhe fazem lembrar um forte. Num braço apenas a tomaria e, tem a certeza, mesmo qu'ela lutasse e barafustasse, a deitaria abaixo...

{A mulher abana a cabeça, incrédula. Murmura: «Que raio de pensamento para se ter...»
O homem, cansado, pára um pouco o seu trabalho. Encara a paisagem imensa da solidão que o rodeia. Então os seus olhos encontram os dela e a solidão quebra.}

Olha-a como um predador encara a presa. Perto dele ela é simplesmente tão indefesa, um pedaço de carne fresca.
Apetece-lhe saltar-lhe à jugular, ouvir aquele uivo gemido antes dela ceder à sua superior capacidade física. E, depois de subjugada, brincar com ela naquele estado inebriado em que a asfixia e os múltiplos toques a deixariam...

{Ela está desconcertada com a força brutal dos olhos dele. Quer baixar a cabeça, sente-se exposta demais, mas não consegue. São olhos hipnotizantes!}


Continua a olha-la. A ideia obstina-o e contra o muro já não vê só a presa-mulher, ouve uma taquicardia sonora, vê uma ânsia, uma ponta de pânico. Avança para ela!

{«Ele vem lá!», e, quando este pensamento aflora, o tempo pára!
«Estou em pânico, será que ele percebe?
Porque estou eu em pânico?
Vou "morrer".
Ele que venha. Sim! Ele que me aperte a jugular com as suas mandíbulas!

Estou suicida?!?!

Não... Quero-o, apetece-me a sua superioridade predatória!!»
O tempo volta a correr! }


O corpo dela está esmagado contra o muro.
O corpo dele sente a carne do dela.
Os uivos orquestram o ar.











Borrega

P.S. - "This is a dedicatory song": Lau {para sempre}

(Texto fictício)

Créditos:

Música:
Ben Harper - "Sexual Healing"
Caro Esmerald - "That Man"
Muse - "Stockholm Syndrome"
Imagem: daqui

setembro 15, 2010

Chegadas

Olha como o quarto está arrumado!
Sim, arrumado.
Olha como ela está com um ar alegre, lavado!
Sim, alegre.
Diferente?
Não, apenas um revivalismo do antigo Eu, com umas roupas renovadas.

[Cachopa caleidoscópica.]

Aliás, sim! Diferente.
A diferença está que agora dorme sozinha e contente. Que a solidão vem e ela a beija na boca, em vez de chorar que nem louca.
Lá está: o antigo Eu forte e diferente, que achava alegria naquilo que aos outros chorar fazia!

[Cachopa caleidoscópica.]

Olha como o quarto está arrumado!
Olha como ela está com um ar alegre, lavado!

Sim, é que a solidão tem tanta coisa e tanta gente, tanto tempo e vaguear de'mente.
Ela voltou, a solidão. Que estava ausente, mas eu até gosto dela presente...


















Borrega
(06/09/2010)

Créditos:
Imagem: daqui

setembro 06, 2010

Noite sem Norte

- És uma merda! Fizeste merda!

Oriana está a ser ditatorial consigo mesma e sabe disso.
Não são os mexericos nos corredores que a constrangem, mas sim a vergonha que tem de si mesma neste momento.

- Por um momento quis não ser tão consciente, quis não ser tão eu... Fiz merda!
- Oriana...
- Não adianta, não vai ser com palmadinhas na cabeça que isto vai lá. Mandei às urtigas as coisas em que acredito. Magoei-me a mim mesma... Burra de merda! Infantil! Imatura!
- Oriana, já foi... Já passou.
- Dói...
- Está viva, é óbvio que dói. Tu auto-retalhaste-te!

A Consciência assume agora um tom ainda mais severo que o dela.

- Porque raio fiz merda?
- Tu sabes. Estava a doer, mas não o suficiente. Agora é agoniante, tira-te o sono, sentes-te uma merda, recuperarás melhor. - Hesita. - Espero...
Este erro não muda a pessoa que és, vai-te sim fortalecer.
- Não me sei perdoar.
- Pode ser que desta aprendas a fazê-lo, era importante sabes?!
- Olho para trás e não me reconheço naquilo, não me revejo.
- Obviamente que não trenga. Querias ser alguém que não és, por momentos foste... Foi uma merda e sentes-te uma merda porque tu estás bem como és! Now move on! Aprende com isto e não tenhas medo de pedir ajuda...

Oriana suspira, com a mão sobre o peito afligido...

- Fiz merda! - suspira - Paciência, isto quer é dias passados.


Oriana...

Borrega
(01/03/2010)

setembro 01, 2010

A menina que n'ã[o fu]mava

{Estavam ele e ela numa sítio sem tempo nem era, em desconhecida e deserta localização.
Ela e ele estão
acompanhados pelo silêncio, mas ela zanga-se com o silêncio e decide mandá-lo embora, mesmo não sabendo como o quebrar. Então diz-lhe:}

- [D]á[-me um ci]garro.
Dá-me!...
- Mas tu n'ã[o fu]mas!
- Pois não, mas dá-me, que quero muito tê-lo.
- Toma, mas não o estragues, que depois quero, aliás, preciso [a]*[fu]mar!!

{Ela e os seus parêntesis e entre linhas! Consumia-lhe a cabeça! Estaria ele a entender bem aquele subito pedido? Estaria ela mesmo a apelar pelo seu colo? Ou só queria mesmo um cigarro? É verdade que ela não fuma, mas gosta de bater tabaco... Talvez seja só isso que ela quer... Teria ela entendido a picardia que ele incutira na sua resposta?}


- [D]á[-me um ci]garro!
Dá-me...!

-Mas tu n'ã[o fu]mas!
{...s.u.s.p.i.r.a...}
Devias!

{Galga a distância entr'eles. Abraça-a.
Ela, sem reacção imediata, só consegue pensar em como a baunilha do tabaco lhe adoça a roupa duma forma tépida.}


Tens a pele macia, a alma [c]a[l]tiva 'fri[d]a! Teus olhos [, teus carac]*[s]óis!

{Ela solta-se, tal qual bicho-do-mato, arisca qu'é. Assusta-a [car]*[n]inho.}

- Dá-me só o [a]*[ci]garro.
to [r]*[d]evolvo.
- Mas tu n'ã[o fu]mas!
- Que [sab]es tu de mim?
[A]*[Fu]mo sim!
Passiva [!]...

{Cai de joelhos, punhos contra o chão.
Uiva:}


- [A]*[Fu]mo[-te] sim!

{Curva-se. Ergue-a do chão, com o cuidado de quem tem em mãos a mais frágil e fina porcelana.}

- Toma [l]á [o ci]garro[-te]!
Que s[ei]*[ou] eu de ti?
O mesmo que [sab]es de mim: que n'ã[o fu]mo [não sem ti!].
- Dá-me tu,
[D]á[-me tu um ci]garro a mim!


{Beijam-se...}

Borrega

P.S.- "This is a dedicatory song": Sis'

Créditos:
Música: Johnny Cash - "One"
{simplesmente porque a voz deste senhor me enamora e a sua versão desta canção tem mantido os meus ouvidos seus reclusos}
Imagem: daqui

agosto 24, 2010

Mendigos

à Lau e a toda a familia Costa
ao Sérgio e aos pais Amorim

Stª Quitéria.

Os bancos ladeiam os jardins centrais em extensão indiana. Pessoas passeiam-se nesta noite serena de Verão.
Respira-se a calma pelas conversas e risos que passam, a inconsequente juventude nos peões feitos no estacionamente de terra batida.
Caminhei com esta familia por entre outras tantas familias. Sabe bem a companhia de gente assim: simplesmente simples!
Agora também eu, tal como o pai e a mãe, a par da irmã e do irmão, somos um alinhamento indiano paralelo a um banco.
Ele e ela transpiram alegria e cumplicidade em duas vozes de deslumbre. Ela pousa, rindo esbelta, a mala no chão. Pode ser que ponham moeda. Eheh!
E vão desfilando músicas e músicas...
Tenho sorte de conhecer "mendigos" assim!

Borrega
(19/07/2010)


agosto 22, 2010

"Indian, Indian..."

"... what did you die for? Indian say: «nothing at all.»"
(Jim Morrison, in American Prayer)



Agora devia escrever-te uma coisa bonita, como lhe fiz a ele há um ano e pouco atrás.
Mas não consigo, porque ontem me morreste à frente dos olhos. Porque ontem peguei o teu pequeno corpo ainda quente e hoje levantei-me ao raiar do dia para pega-lo já frio e ir enterra-lo junto dos deles.












RIP -
Senimole da Florida...

(11/11/2007 - 21/08/2010)


Borrega

Créditos:
Imagem:
Pulga e Seminole@todos os direitos reservados

agosto 19, 2010

S[ab]es [?]!


Ama[s]-me[?]!
Pega em mim.
Despe-me.
Tira-me este cheiro a solidão d'alma, est'amargura do corpo!

Beija[s]-me[?]!
Anima-me meu corpo gelado, desperta o ardor que no meu âmago jaz calado.
Torna rubros meus lábios cianosados pelo d'uso. Torna-os encarnados cravos desabrochados, maduros!

Abraça[s]-me[?]!
Daquela maneira que pega a alma ao colo.
É qu'ela é menina mimalha largada numa passadeira.
Está em pranto, está numa choradeira.




Ama[s]-me[?]!


{É qu'eu sim, duma maneira perdida e sem fim.}

Borrega

P.S. - Pra quem tenho saudades

Créditos:
Imagem: Angelina Jolie

(texto fictício!)


agosto 14, 2010

Letters to...

Durante uma das muitas deambulações que fazemos pela blogsfera eis que nos deparamos com este desafio aqui .
Tal como no Streetlight*, iremos tentar fazer todas as cartas mesmo que não respeitemos a sua ordem e alternando-as com outros textos. A ideia de agrupar algumas cartas numa só também nos conquistou, pois ao ler a lista houve diferentes cartas que nos lembraram, a cada uma de nós, a mesma pessoa.
Ora bem a lista é a seguinte:

#1 ... your best friend

#2 ... your crush

#3 ... your parents

#4 ... your sibiling (or closest relative)

#5 ... your dreams

#6 ... a stranger

#7 ... your ex-boyfriend/love/crush

#8 ... your favourite internet friend

#9 ... someone you would like to know

#10 ... someone you don't talk as much as you'de like to

#11 ... a deceased person you wish youcould talk to

#12 ... the person you hate the most/caused you a lot of pain

#13 ... someone who you wish to be able to forgive you

#14 ... someone you drifted away from

#15 ... the person you miss the most

#16 ... someone that's not in your city or country

#17 ... someone from your childhood

#18 ... the person you wish you could be

#19 ... someone who pestres your mind - good or bad

#20 ... the one that broke your heart the hardest

#21 ... someone you judge by they first impression

#22 ... someone you want to give a second change to

#23 ... the last person you kissed

#24 ... the person that gave your favourite memory

#25 ... the person you know that is going through the worst of times

#26 ... the last person you made a pink promise to

#27 ... the friediest person you knew for only one day

#28 ... someone that chaged your life

#29 ... the person that you want to tell everything to, but you are to afraid to

#30 ... your reflection in the mirror











Pulga e Borrega

Créditos:
Imagem:
http://escreve-com-sentimentos.blogspot.com/

A água reclamava contra a proa, o mar estava revolto. O vento corria solto...
Estou na praia, sentada à beira mar. O cabelo voa ao sabor do vento.
Esta maresia é alento, é fogo que lento me aquece a alma e ela, criança!, bate palmas.
A água reclamava contra a proa...

Borrega
(26/07/2010)

Créditos:
@Foz do Arelho

agosto 11, 2010

Suzanne

"Suzanne takes you down to her place near the river
(...)
And you know that she's half crazy
But that's why you want to be there"



Viste-a, doida queda, sob o sol de Julho.
Ferida no orgulho, desprovida de si, pensando-se desprovida de tudo.
Viste-a, Lunática, sofrendo aquela dor apática... Sentaste, ficaste, serenaste.
Ela viu-te, pequeno dolorido, menino perdido, e pegou-te na mão. Pousou lá o ensangue coração.
Mãos dadas, tardes passadas, feridas indo sendo saradas.
A lunática queda e o menino perdido, mudam-lhe o rumo: já não vão juntos, já não vão de mão dada.
Mas ela, assolapada pelo olhar solarengo do menino, ainda o leva a ver os bateis que vão cavalgando as ondas...
Pede-lhe a mão, pede-lhe para que lhe deixe repousar o coração.
Diz-lhe que não pode, que não faz sentido, não lhe pode satisfazer o pedido...
Ela, doida como sempre, lunática impaciente, pega-lhe a mão, estende-lhe a palma ao sol, entrega-lhe os mais lindos versos que traz na alma...
É teu, pequeno menino que vagueias sem destino. Eu aqui fico, numa mesa a beber chá, eu aqui fico: [l]o[u]ca sem ti[no]...


"And just when you mean to tell her
That you have no love to give her..."


Borrega
(10/05/2010)

Créditos:
Música: Leonard Cohen - "Suzanne"
Imagem: daqui