Ela estava deitada, não, largada é o termo mais adequado. Ela estava largada, de barriga para baixo, sobre a colcha da cama religiosamente feita.
Os braços abertos, qual Cristo. No que pendia para fora da pequena cama individual segurava, já por pouco, uma folha escrevinhada.
«Hoje chorei, quer dizer estou a chorar... Melhor, não é só hoje, tenho chorado muito. Mas finjo que está tudo bem, e eu finjo tão mal para ti.
Sabes, disseram à Luna, na avaliação, que a falha dela tinha sido falta de auto-confiança.
É exactamente isto, é eu por muito que me esforce, achar que não te sou suficiente, que não mereço, que não estou à altura, que não tenho o direito de precisar de ti, de te pedir colo. É eu me sentir completamente impotente perante o facto de te saber a sofrer e não te poder curar...
Sabes qual é o meu maior medo? Que um dia me olhes nos olhos e me digas: "Já não te conheço.".
Porque, por vezes, já nem eu me conheço.
Porque ficas?
Porque não desistes de mim?
É que sabes, é inglório lutar por alguém que já desistiu de si mesmo. Ou que desiste por períodos...
Porque mereço tanto de ti?
Amo-te.
Sei que isso não muda as falhas e não me tira esta estúpida insegurança. Mas não deixa de ser das coisas mais verdadeiras que tenho.»
Peguei na carta e pousei-a sobre o teclado do computador.
Ajeitei-a na cama e cobri-a com a pequena manta que tinha aos pés desta.
A pequena precisa realmente de ganhar juízo.
Valham-lhe as gentes que sei que tem.
Oriana...
Borrega
Créditos:
Música: Ao som do álbum "Let Them Talk" de Hugh Laurie
Música: Ao som do álbum "Let Them Talk" de Hugh Laurie
1 rugidos:
"Porque, por vezes, já nem eu me conheço.
Porque ficas?
Porque não desistes de mim?
É que sabes, é inglório lutar por alguém que já desistiu de si mesmo. Ou que desiste por períodos..."
M.
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