A chuva também e, nas abertas que dá, correm ceifeiras para apanhar o milho. Correm os homens às vindimas.
É a melancolia que sopra vestida de vento, é a tristeza vestida de brisa...
Cai-te a lágrima.
Treme-te o peito.
Ajeitas o cabelo para que te cubra o leito do pranto.
Não te hão-de ver chorar e, se não virem, é mais fácil mentires que não o fizeste.
Chamam por ti...
Estás aluada, perdida naquelas escadas, não ouves.
Insistem. [Graças a Deus.]
Parou de chover.
Raia, tímido, um feixe de sol. [Tão ténue.]
Cai-te a lágrima.
Treme-te o peito.
Outra vez...
Deitas-te na tua cama.
Fechas ao de leve os olhos.
Está lá uma mão que tenta segurar algo.
O tremor dos dedos mostra que está ansiosa.
"Que é aquilo que espera pegar?
(...)
Uma ampulheta...
Tem a areia no fim."
E uma voz rouca diz-te:
"Chora que é hora, o ciclo chegou ao fim.
Chora que sou teu destino e te sentenciei assim."
Cai-te a lágrima.
Treme-te o peito.
Mais esta vez...
Acordas de face encharcada,
Alma alagada.
Ergues-te num pulo e sais à rua.
Está a chover.
Isso é bom, que assim ninguém vai ver o temporal do teu rosto.
"Ele disse ciclo, logo ele deve de, mais tarde ou mais cedo, virar a ampulheta.
Até lá choro, até lá é tempo de chover..."
Cai-te a lágrima.
Treme-te o peito...
[Enésima vez?!?]
O sol já raiou.
Tocas o rosto,
O teu choro parou.
[por enquanto...]
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