Encosta a cabeça ao vidro do autocarro. Os fones tocam a música em alto e bom som. Tão alto e bom som, que ele é obrigado a tirar-lhe o fone do lado esquerdo. Entrou nesta paragem e ela não reparou. A pobre anda estafada de não fazer nada, e esta pequena fuga tirou-lhe o sono de noite para lho dar agora.
Com delicadeza, pega na cabeça dela e encosta no ombro dele, enquanto lhe pega no mp3 e o desliga. Murmura-lhe a sua canção, assim ela até dorme melhor. Engana-se. Com um sorriso, ouve-se dois murmúrios descoordenados, uma voz rouca, típica de quem acordou.
Os olhos mantém-se fechados enquanto ela canta, mas mesmo assim as lágrimas escorrem. Ajeita novamente os fones, liga novamente o mp3, e volta novamente o barulho. Ou a música. Ou o nada.
[Quem diria que já passaram dois anos?]
[Quem diria que já passaram dois anos?]
Os olhos vão ficar fechados até ao final da viagem, independentemente de tudo, esta é a fuga dela.
Negação.
Pulga
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