Não me tirem o meu céu!
Não me tirem o chilrear das andorinhas pelas manhãs de Primavera.
Não me tirem!
Não me deixem órfã...
Cabocla livre pelos campos, corre ligeira precedida e perseguida pelos cachorros...
É feliz.
Procura nestas corridas e nestes passeios o bálsamo para as cicatrizes.
Que vêem-nas à distância, vêem-nas a olho nu.
Maldita transparência que tenta, infrutiferamente, esconder com a sua roupa negra, o seu riso fácil e os seus sarcasmos pungentes.
Não me tirem o meu céu!
Não me tirem o pôr-do-sol a doirar as laranjeiras.
Não me tirem!
Não me deixem órfã!
Não sei estar sozinha. "Mas estamos todos sozinhos.", dizem-lhe.
Contudo nesta solidão estamos todos juntos...
E como precisa, de vez em quando, da confusão familiar, de autoridade paternal... de companhia.
Maldito amor que me "prende", maldita mania de ver branco...
Não me tirem o meu céu!
Não me tirem as minhas pinheiras, cresci em cima dos seus ramos...
Não me tirem!
Não me deixem órfã...
Olha para mim.
Lê-me: sou livro aberto, sou corpo a descoberto.
Olha para mim.
Só fui órfã de mim mesma.
Só serei órfã se voltar a não acreditar que as minhas cicatrizes são deveras belas, que no meu peito cabe o mundo!
Olha para mim, pequena sobre um céu descomunal: o meu céu!
Meu, no meu peito, onde quer que eu vá.
Meu... da minh'Alma...
Borrega
(15/02/2010)
(15/02/2010)
P.S.- "Larger than life"
Créditos:
Música: a voz dorida de Johnny Cash
Imagem: daqui
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Música: a voz dorida de Johnny Cash
Imagem: daqui
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