abril 08, 2009

Café

‘E quê?’, perguntei-lhe.
Ele sorriu para mim. Não o meu sorriso, aquele normal e natural, aquele que ele mostrava a melhor parte dele, aquele que me tinha cativado na primeira vez que o vi, aquele que me fazia lembrá-lo todos os dias e sorrir. Ele sorriu-me mostrando um pouco os dentes, de feições tristes. Apeteceu-me abraçá-lo, mas ele nunca tinha sido realmente meu para essas confianças, mas não podia simplesmente afastar-me. Parte de mim sempre fora dele.
Coloquei-lhe a mão sobre os ombros. Em breve entraríamos no carro, em breve iríamos tomar o café que tantas vezes adiamos. Mas agora estávamos aqui. Só nós os três. E as saudades abateram-se como uma chuva miúda. E esta escorria-me pela face, até me aperceber de que não estava a chover, e a água que escorria eram apenas lágrimas.
Dois pares de mãos suportaram-me. Fortes, inseguras. Esbocei um sorriso igual ao dele. Em breve estaria tudo bem. Em breve estaria em braços que me envolveriam também fortes e inseguros, não deles, mas de que eu pudesse trocar aquele familiar aconchego por outro que me deixaria constrangida.
Abracei-os. Ambos ficaram perplexos, mas ergueram-me no ar, e entraram assim comigo no café. Exactamente à minha medida. Exactamente ao nível de escândalo que precisava. Exactamente aquilo que necessitava para viver apenas ali e não estar nem horas à frente, nem meses atrás. Exactamente o que precisávamos para passar horas apenas com uma chávena de café, enquanto fascinávamo-nos com as nossas peripécias.
‘É apenas mais um dia, é apenas mais um café’, responderam-me de volta.

[Estavam enganados.]



Pulga

2 rugidos:

Rui Pi disse...

Não sei qual de vocês a pulga... mas gostei do texto! ;)

Carolina disse...

esta bem bonito :)

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