novembro 03, 2009

Delineando (in)definições

"Semeia um acto, e colhes um hábito. Semeia um hábito, e colhes um carácter. Semeia um carácter, e colhes um destino."
(Charles Reade)

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Perco-me nos contornos indefinidos dos minutos, das horas, dos dias, dos meses, dos anos que passam.
Todos eles, de lápis e borracha, de régua, esquadro e compasso em punho, vão modelando e recriando os meus contornos.
Uns ampliam-me, outros reduzem-me. Uns põem-me duma rectidão extrema, outros numa elíptica de cores, na maioria a preto e branco, talvez com uma pitada de cinzento.
E assim vou andando, aos altos e baixos, por rectas, rotundas, curvas sinuosas.
Cirando por aqui e por ali, toco outros limites, outros contornos, as minhas ferramentas de desenho, por vezes, entretêm-se a marca-los.
Acho-me na indefinição das linhas do meu carácter, do qual afirmo o que não sou, o qual alimento de quedas e mais quedas, de me levantar e continuar, umas vezes com mais e outras com menos vontade.
Conheço-me pela verdade dos irregulares contornos das minhas lágrimas, pelo curvilíneo sorriso de criança.
Conheço-me pela alma que me espreita pelos olhos.
Cirandando lá vou caminhando, lá vou tentando, de lápis e borracha na mão, desenhar o meu mundo, pintá-lo a mais do que preto, branco e cinzento.
Dou-lhe cor a alma, dou-lhe cor a risos, dou-lhe cor a Vida.
De lápis e borracha delineio o completo infinito indefinido que sou.

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