Oriana tinha apenas uma camisa de homem a cobrir-lhe o corpo, aquela camisa, e estava agora a lavar os dentes quando, repentinamente, pára e fita o seu reflexo. Lembrara-se de um dos sonhos que lhe ocuparam o sono. Era Petra e aquele homem que a levara para a ruela, que a beijara… Apressou-se a acabar de lavar os dentes e correu a pegar uma folha branca e caneta.
« Petra estava nua, aninhada contra o peito seguro e ainda ofegante dele. Tinha um ar perdido entre a felicidade e a agonia. Contemplava as folhas outonais dançando com o vento vespertino para evitar o olhar, hoje esverdeado, dele.
Umas horas antes, ela tinha-o procurado, estava a dar em doida desde aquele encontro. O seu corpo desesperava por um abraço, por um toque. Então quando o achou abraçara-o…
Ele apertara-a, de forma protectora, contra o peito que, contrariamente ao dela, estava sereno. Disse-lhe decidido ao ouvido: “Vem comigo.”
Seguira-o e ali estavam, perdidos no corpo um do outro. Petra também está perdida nos seus pensamentos… Levanta-se num salto. Ele, olha-a totalmente surpreso e indignado. Estica a mão para a dela, reclamando o seu corpo contra o dele. “Que foi?”, indaga.
“Só porque nos soube bem, não o torna certo. Não podemos ter tudo o que queremos. Já não és meu… Nem eu tua…”, respondeu de forma acesa.
Pela janela, acalentada pelo vento, entra uma folha que pousa no cabelo negro e desalinhado de Petra. Na fracção de segundo em que ergueu a mão para a tirar, ele galgou a distância que os separava e tomou-a nos braços. Voltaram a cair na cama. “ Arrependamo-nos depois…”, implorou-lhe ele. “Consegues ignorar a ferida?”
Os olhos, que entretanto tinham voltado ao seu azul natural devido à mudança da luminosidade, eram de tal maneira quentes, eram de tal maneira persuasivos. “Lido com a dor depois. Enquanto souber bem, enquanto me souberes bem, não me importa a dor do depois.”, admitiu-lhe num suspiro.
O vento soprou forte, as folhas entraram janela a dentro, envolveram-nos e testemunharam a fraqueza de Petra…»
- Que raio de sonho para teres! - Oriana auto-repreende-se. Tira a camisa e veste-se. - Será que não tens mais nada para me mostrares? – espicaça para a Consciência.
- Que te fez lembrar? – disse-lhe ela, num tom maternal.
- Aquele post da Nessie.
- Era essa e ideia, para que não te esqueças das coisas. Para que as ponderes. Não te impeço de nada, só quero que ponderes bem, tendo em conta todas as variáveis.
- Obrigada!
- De nada, Oriana…
Oriana…
Borrega
Créditos:
Música: The Rolling Stones - "You Can't Always Get What You Want"
Skunk Anansie - "Hedonism"
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