"Todos os dias, quando acordo, vou correndo tirar a poeira da palavra amor..."
(Clarice Lispector)
(***)
Oriana já não tinha uma noite destas há algum tempo. Ele não lhe saía da cabeça, não lhe dava descanso. Ela queria dormir e as imagens dele, o cheiro, a lembrança do toque, não a deixavam.
Oriana é meia concha apertando o seu Coraçãozinho de madrepérola que, a cada lembrança daquele olhar luz, bate em espasmos electrizados.
Lá o acalma com doces afagos, perscruta-lhe as cicatrizes, estão mais saradas. Está bonito, mais crescidito, vigoroso.
Revira-se, volta a revirar-se e, mais umas quantas reviravoltas depois, volta à posição inicial.
- Que raio anseio eu? - pergunta ao ar, pois sabe a resposta.
- Um abraço, um abraço transversal, um que te toque a alma, um que me afague a mim e te deixe fazer o mesmo. - responde-lhe o Coração.
- Dorido? - atira, mudando a direcção.
- Cativado. - reencarrilha-a o Coração.
Suspira.
Esboça um sorriso d'olhos brilhando no escuro.
Acorda meio desnorteada, meio desiludida, abraçando uma almofada.
Maldito despertador, há meio minuto atrás dormia abraçando-o, com a certeza dos olhos luz abrindo para o novo dia sincronizados com os dela.
Suspira.
Oriana e as lembranças d'olhos luz.
Oriana e as lembranças que lhe atravessam o sono.
Oriana...
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Créditos:
Música: Incubus - "Dig"
Música: Incubus - "Dig"
1 rugidos:
Clarisse Lispector é uma excelente escolha. No seu livro Laços de Ternura temos um dos seus mais belos contos "Amor".
Beijos
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