Este Corpo que vêem é vaso da nh'Alma. É mutável a ritmo diferente do dela e a Consciência esforça-se por não se perder entre o ritmo citadino do Corpo e o country rock duma Alma de viola em punho.
E quando este Corpo dói do cansaço e do alucinante vai-e-vem das responsabilidades atiro-o para uma cama d'olhos vendados. Ele geme de dores nas costas, lá bem no fundo da espinha, contorce-se. Arranja, a custo, aninho e nas pálpebras fechadas vê a Alma, menina à varanda, com voz rouca, a cantar as suas baladas.
O Corpo chora.
A Alma toca.
A Consciência tenta racionalizar o choro.
O Corpo alaga e desmorona ao som d'Alma.
Ele chora a distância da Alma, ele chora o facto de, naquele nojento e oportunista ritmo citadino, não a verem nele, tatuada nas entranhas, motor último da sua individualidade incompreendida.
Era tão mais fácil quando tu, Consciência, eras menina como ela, inocente e sem macula. De feridas só tinhas os típicos joelhos esfolados de correres com ela pelos meus prados inteligíveis. Era mesmo muito mais fácil, suportável, quando eu não ligava nenhuma, quando simplesmente me estava a marimbar para as tendências, expectativas e opiniões.
Mas crescemos, eu e tu, por ela. Porque, pelo menos ela, tem de continuar menina de viola country em punho, tocando para nós. Tocando o nosso hino de resistência à demência social maioritariamente instalada que incentiva à facada nas costas e ao espezinhar do próximo.
O Corpo e agora a Consciência choram, olhando a menina de viola.
A Alma, essa, ri, sempre de dedos nas cordas, é que o mal do crescimento está à espreita e quem canta seus males espanta! Ela canta, ri, brinca, mantêm-se menina essência: Oriana...
Eles choram.
A música dela abraça-os, acarinha e conforta-os das entranhas!
Oriana...Borrega
Créditos:
Música: John Cougar Mellencamp - "Jack and Diane" e "Hurt so good"
Imagem: daqui