janeiro 27, 2009

Anseios


Do meu banco, vejo os verdes montes distantes, os seus contornos são de um nublado rosa-alaranjado, muito carregados e inebriantes. Vejo uma esfera de amarelo etéreo e quente, enterrando-se até ao pescoço, aconchegada, entre os montes.
Limpo, com mãos exasperadas, as gordas lágrimas que me rolam pelas faces. Sinto-me só e tão insignificante perante o espectáculo da vida que se desenrola à minha frente.
Vejo “as formigas” que andam, atarantadas, de um lado para o outro, no asfalto negro, aquecido pelo fim de tarde. Elas passam e passam, de um lado para o outro, numa roda-viva de cores, sons e velocidade. Nunca mais uma das formiguinhas com rodas abre pisca e entra pelo portão escancarado da minha casa, porque nenhuma delas és tu.
Tu sentar-te-ias ao meu lado, apertar-me-ias nos teus braços e mentirias. Sim, mentirias. Sussurrando-me, na tua voz grave, que está tudo bem, quando eu sei que não está.
Mas terias de ser tu a fazê-lo, pois nisto não consigo mentir a mim própria, não me consigo enganar. Tu, com os teus olhos límpidos e meigos a fitar-me, tão calorosos com o poente, e com a tua voz no meu ouvido, a repetir sem cessar “Está tudo bem.”, serenarias o meu espírito e talvez eu até sorrisse.
Contudo, nenhuma das formigas és tu e não te posso arrastar comigo, não te posso e não te quero preocupar, por isso, quando perguntas “Estás bem?”, muitas são as vezes em que minto.
Agora, aqui estou eu, sentada, num silêncio chorado, no meu banco, banhada pelo imenso pôr-do-sol.



Borrega

1 rugidos:

Anónimo disse...

É, sem dúvida, um belissimo texto, muito profundo... Vocês as duas têm um toque para escrever espetacular! Parabéns, continuem!
Beijo
Joana
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