janeiro 20, 2009

Palco



Um palco, meia dúzia de pessoas em cima dele, pessoas essas que têm o privilégio de poderem ser 1001 num só corpo. Vivem o que fazem, dão sentido, vida, na realidade, animam as palavras escritas por alguém...
Revezam-se em cima desse palco, esforçam-se, tentando despoletar em nós um chorrilho de emoções, as emoções que também eles sentem, emoções essas que foram idealizadas por algum vulto de pena fantasiosa e eloquente, em riste, contra uma simples folha branca. Querem que nós possamos sentir e desfrutar pelo menos um décimo daquilo que eles sentem.


Hoje fui um desses privilegiados, hoje também eu pude sentir aquele tal décimo que me encheu a alma. Senti a revolta a crescer, o desespero e a resignação, à medida que também “aquela pobre mulher” sentia, por isso agradeço a todo o elenco e um obrigado especial à Sr.ª Maria do Céu Guerra, que muito admiro.

No entanto, a revolta que senti não foi só a que me foi despertada pelo enredo da peça, mas também uma revolta minha, por, naquele teatro, ter constatado, uma vez mais, a incultura e falta de respeito de alguns jovens pelo trabalho dos outros e por algumas formas de arte. Simplesmente não consigo compreender este tipo de postura. Eu acho fascinante o trabalho desenvolvido pelos actores e tenho um apreço especial por todos aqueles que lutam para que não seja banido este combate corpo a corpo, de peito aberto
[1], que é o teatro. Admiro aqueles que tentam salvar a revista à beira da extinção. No fim de contas, admiro todos aqueles que não se rendem à “caixinha mágica”, todos aqueles que lutam para que esta arte continue a pulsar de forma forte e ritmada, para que ela não se extinga, para que a arte de representar, o palco e o corpo a corpo com o público não desapareçam.

Mesmo assim, não consigo deixar de pensar: será que nós, auditório, merecemos que eles continuem a travar esta batalha inglória??? Tenho a impressão de que se eles ainda o fazem é porque acreditam que as mentalidades, dos jovens e do público em geral, mudam; é porque sabem que felizmente há luar!



[1] Fragmento de uma das frases utilizadas por M.ª do Céu Guerra na pequena introdução que fez à peça.

Borrega
(22/11/06)

2 rugidos:

Anónimo disse...

Tudo vale a pena quando a alma não é pequena, disse-o o poeta do Orpheu. E "felizmente há luar", no rosto de cada jovem que procura sair de casa e reinventar palavras que trazem o homem de volta...

Margarida Graça

Anónimo disse...

É, de facto, triste ver o teatro a "morrer" às mãos de "caixas" e "telas" sem as quais se já se viveu, mas que hoje em dia a maioria dos jovens "não sobrevive"... Pois no tempo em que ainda não haviam "caixas" e "telas" o teatro era a única opção para se deixar levar e viver mil e uma vidas, pelas mãos, rosto e alma de todos os "aníbal de mil caras" que se entregavam totalmente à sua paixão e profissão...
Hoje em dia, basta primirmos um botão (e pagar uma churuda assinatura mensal) para termos uma infinidade de histórias intrepretadas, também, por actores... mas nenhuma delas, nem todas elas no seu conjunto, reunem a emoção do teatro... e os actores que as protagonizam, que repetem uma cena as vezes que forem necessárias até que ela apresente o resultado que um tal de realizador(penso que é ele) quer, não possuem, a meu ver, um terço do mérito dos actores de teatro, aqueles que estão lá todas as noites, sem "corta's" e "remake's". Auqeles que estão ali, à frnte do público a dar corpo, suor, e até lágrimas, ao público que já tanto os aplaudiu, mas que agora lhes vira as costas...
Não digo que não gosto de cinema ou televisão, mas não deixemos morrer o teatro!!!

Beijo
Joana
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