agosto 25, 2009

'Casperzinhos'


De andar apressado e olhos baixos, esquece-se do mundo que a rodeia. Esquece-se de onde está. Um encontrão de lado, desperta-a. Reconhece aquelas costas que tantas vezes viu afastarem-se sem um único pedaço de remorso. Reconhece, mas não se lembra a quem pertencem.
Espreita por cima do ombro. As costas pararam e voltaram-se. Reconhece aqueles olhos que tanta vez brilharam na presença dela. Reconhece aquele sorriso que tanta vez foi ela que causou. Reconhece aquele rosto que tanta vez pousou nas suas mãos. O nome ainda lhe falha.
‘Olá. Boa tarde. Sou eu.’
Reconhece aquela voz que tanta vez lhe murmurou delícias, que tanta vez a consolou. E naquelas mãos, que tantas vezes a aconchegaram e suportaram o peso de dois, nessas mãos, vêm aquelas velhas memórias. Aquilo que para ela esquecer, e sem coragem de deitar fora, depositara naquelas mãos.
O nome já não interessa. Os anos não passaram ali. A alegria de estar ali, na presença daquela personagem é incalculável. A dor será insuportável, prevê ela. De facto, à muito que já não se agoira nada de bom, e o facto de fantasmas amigáveis voltarem a aparecer não são bons presságios.
Sem pensar duas vezes, retoma contacto. Troca os números de telefone e quase que exige de volta metade das memórias.
Seja como for, qualquer que seja o azar desta vez, irá ser apenas outro fantasma que se torna de carne e osso na vida dela.


‘I am selfish, I am wrong
I am right, I swear I'm right
Swear I knew it all along’
Vindicated – Dashboard Confessional



Pulga

0 rugidos:

Enviar um comentário