agosto 03, 2009

Só (comboio)


O comboio passa, estação a estação recolhe e distribui gente.
Gente que tem uma história, gente que ama, que ri, que chora.
Gente!
Quem é esta gente?
Quem sou eu no meio desta gente?
Sou mais uma entre as gentes.
Sentada, olho a linha férrea, espero pela ligação, pelo próximo comboio que, por caminhos que não conheço e que me hão-de correr pelas janela, me levará para mais perto de casa. Me distribuirá, juntamente com outras gentes, para eu apanhar a minha última ligação...
Mas quem são estas gentes, neste vai-e-vem, nesta viagem?
Para onde vão?
De onde vêm?
De onde são?
Quantas destas gentes, que me vêem aqui sentada, se interrogarão como eu?
Quantas ainda estarão demasiado presas ao tacanho, ao mesquinho?
Quantas choram por um amor que partiu?
Quantas pensarão o que será o almoço?
Quantas terão para quem voltar?
Olho para dentro, para dentro de mim...
Sou tantas coisas. Poderei eu mesma definir-me e dizer: «Eu sou Oriana, estou de viagem de regresso a casa, sou uma pessoa "assim e assado".»?
Não posso dizer!
Não posso ser taxativa.
Contudo, de mim posso dizer que vem da alma, que vem da essência, posso dizer que sou Oriana!
E deles?
Eles são gentes, com caminhos, marcas deixadas pela vida, com histórias, com laços, carinhos, amarguras, saudades, dores...
Eles são gentes que caminham sós, que cruzam o meu caminho, mas nenhuma destas gentes é a minha gente, nenhuma é um ponto vermelho na multidão de cinza amorfa que me ladeia e, agora, embala para dentro do comboio.
Eu sou... Oriana em viagem...

Oriana...

Borrega


P.S.- aos meus pontos vermelhos na multidão de cinza amorfa...

Créditos:
Música: Soul Asylum - "Runaway Train"

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