agosto 29, 2009

Dança, pequena


Dança, pequena. Agita o teu corpo em frente à branca bancada. Suja de sangue essa incólume bancada. Dança, pequena, dança. Que enquanto danças, o tempo dança contigo, e a bancada suja-se mais um pouco.
Canta, pequena. Esganiça a tua voz atrás dessa máscara. Mostra-te verdadeira enquanto os outros ao teu lado fingem. Grita mais um pouco. Goza mais um pouco. Dá-lhes pano para mangas, dá-lhes razão para falarem mal de ti. Canta, pequena, canta. Pois a cantar esse mal espantas.
Sorri, pequena. Que todos eles andam atrás de ti. Se não és comprometida é porque não queres, pois o teu sorriso deixou-os aos teus pés. Sorri, pequena, sorri. Ri mais uma vez. És tu pequena. És aquela a quem eles retribuem o sorriso, que vês as verdadeiras faces, que sabes aqueles que queres por perto.
Fala, pequena. Deixa-os espantados com o teu discurso coerente. Deixa-os deslumbrados com o que já viveste, sendo tão pequena e frágil. Deixa-os a rirem-se das tuas piadas ditas em voz baixa e acriançada. Fala, pequena, fala. Encanta-os. Deixa-os boquiabertos. Deixa-os com saudades.
Grita, pequena. Pergunta porque é que é tudo tão branco. Grita-lhes que não devia ser assim! O branco não devia estar associado ao inferno. Nem mesmo ao inferno congelado. Grita-lhes, pequena, grita-lhes. Mostra-lhes que o que tens a dizer, dizes na cara. Mostra-lhes que mesmo não sabendo tanto como eles, que não sabendo tanto da vida, tu dás as duas faces mas não te calas. Que narizes empinados a ti não te afectam, apenas as injustiças que vês.
És tão adulta quanto eles, pequena, e mesmo assim continuas a ser a mesma criança que ainda ontem os cativou com um sorriso e que já amanhã os abandonará com abraços, colos e beijos.


Pulga

1 rugidos:

António Soares disse...

Que imagem LINDA Pulga!

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