Cai exausta sobre a poltrona. A cabeça lateja-lhe, a garganta está irritada, sente-se um farrapo.
Tem de se levantar e sentar-se à secretária que tem na frente, tem trabalhos para fazer, matéria para estudar, está a afundar em stress e pressão. Mas ainda não, ainda é cedo, são apenas nove da noite, o jantar mal chegou ao estômago ainda.
Estende a mão, alcançando a garrafa na mesinha à sua esquerda. Abre-a e verte no cálice o suficiente para dois ou três goles, pousa a garrafa e, de caminho, pega numa pedra de gelo. Queima-lhe na pele quente, mergulha-a no cálice.
Lá fora, no escuro que vê pelas portadas escancaradas da janela, chove a potes. Traga o cálice.
Vê-os tão nitidamente, a ela e a ele, a subirem aquela calçada, em direcção à descida para as residências. Ela, envolta no abraço dele, aconchegada debaixo do seu braço, contra o seu flanco quente. Ela envolve-lhe a cintura com o seu pequeno braço, escutando-o: "Tu tentas salvá-los da morte, eu quero que eles morram felizes.".
Sorri-lhe, "Verdade.", responde.
Ribomba um trovão e um relâmpago rasga o negro véu da noite. Bebe os dois tragos restantes duma só vez.
Mais um ribombar, mais um rasgo de onírica luz dilaceram a serena noite chorosa. Tomando isto como sinal, ergue-se vagarosa e toma o seu lugar à secretária: é hora de trabalhar para aprender a fintar a morte.
tia lena
Há 7 anos
1 rugidos:
Bem. Como sempre... sem palavras. Tem que se experimentar ouvir a música ao ler. Divino.... uffa.
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