Voltou a ouvir o eco da conversa dessa manhã, enquanto caminhava com um amigo. “E se ele voltasse a trás e te pedisse para voltar, voltavas?”, perguntara ele. A sua resposta até a ela mesma a surpreendeu, “Não te vou dizer um «Não» peremptório, mas duvido muito que voltasse.”. O amigo sorriu-lhe.
Petra não tinha essa certeza, ou, se a tinha, estava prestes a perdê-la. Estava agora certa da história que aquela imagem tinha para lhe contar. Assim, pegou numa folha, colocou a imagem no ecrã do portátil e começou a escrever:
«O dia nublado parece não lhe agoirar nada de bom. Ela segue pela rua, perdida nos seus pensamentos. Cruza-se com um homem, um que se lhe destacou por entre a multidão amorfa.
Naquele segundo, em que os olhos cinzas se cravaram nos seus, invariavelmente castanhos, a sua mente andou a velocidades astronómicas, tentando perceber o porquê daquela sensação agridoce, quente e desconcertante de reconhecimento.
Era ele!
Passaram. Não queria olhar para trás, mas o seu movimento foi travado. Sentiu uma mão quente a prender a dela, fria, forçando-a a olhar. Então voltou-se, os seus movimentos foram tão lentos que os estranhou, e encarou o homem a medo.
- Petra… - ciciou-lhe enquanto, com a mão livre, lhe erguia o queixo.
Aqueles olhos continuavam desconcertantes, desnudando-a em toda a sua fragilidade. Despertando reacções por cada porção do seu corpo…
- Olá. Há quanto tempo… Tudo bem? Que é feito de ti? – Atirou-lhe de rajada.
“Estava nervosa, mas porquê?”, pensou.
- Petra… - disse com mais convicção.
Puxou-a para uma ruela paralela, sem vivalma. Encostando-a contra a parede, sem nunca lhe largar os olhos.
“Ainda saberia ele que aqueles olhos a gelavam. A prendiam e deixavam à mercê dos desejos dele? Não, ele não se podia lembrar, não depois de tanto tempo. E porque não o contrariava ela? Porque continuavam presa submissa daqueles olhos?”, estes pensamentos assomaram-lhe a mente, frenéticos.
Enquanto isso, ele aproximou os seus lábios dos dela, continuavam carnudos, tão bem delineados. Até o cheiro dela era igual, aquela irresistível fragrância étnica que ele tinha deixado, por nada! Sabia-o agora…
Beijou-a… Encarou-a… Beijaram-se…
Naquela parede, daquela ruela sem vivalma, eles, entre beijos e nomes sussurrados, provaram de novo o calor de se ser as duas partes de um todo… Até que se largaram...
Olharam-se, enlaçaram os dedos e mergulharam na multidão, seguindo sem rumo, até se largarem com um reticente, mas sem qualquer mágoa, “Até à próxima.”…»
Um sorriso leve aflorou-lhe nos lábios. Era esta a história de Petra, era esta a história que aquele beijo tinha para lhe contar…
Oriana…
Borrega
Créditos:
Música: 3 Doors Down - "Kryptonite"
(apenas porque passei toda a tarde a ouvi-la, ou seja, isso incluí enquanto escrevia. ahh e porque venero esta música!)