Estou na aula de Antropossociologia, é uma aula de que gosto, a maneira como o professor expõe a matéria e responde às nossas dúvidas e palpites é inflamada, muito engraçada. No entanto, não estou cá!
À minha frente está o “Bruno”, o rotweiller de peluche da Dra. Raquel, e o professor. Há uma hora eu estava feliz, era só risos e brincadeiras, mas, tal como de repente começou a chover, também os meus olhos murcharam, apagaram.
Estou a voltar ao mesmo e agora já não te tenho comigo, para te ler, já não estás na minha cabeceira, tu em teus poemas instáveis de quem vive e quer morrer, de quem é instável como eu.
Estou tão apagada que já me comparo a ti. Tu eras a “charneca em flor”, por quem as estações passavam num rodopio louco, que nem a morte fez cessar. Eu não sou nada!
Florbela, quero ler os teus poemas quando chorar! Poetiza e mulher, tu que amaste a morte ao ponto louco de escolheres tu, tu e não Deus, o dia em que te juntarias a ela, são tuas palavras que quero ler quando chorar noite dentro, são teus devaneios que quero ter como pano de fundo para os meus.
Estou a escrever a uma morta (tu estás morta e, no entanto, vives nas bocas de todos os que te lêem), numa aula à qual eu devia estar atenta. Estarei louca? Serão estas mudanças de humor, estes olhos murchos em corpo alegre, apenas a confirmação de que o meu lugar é numa ala do manicómio e não aqui?
Que se lixe a resposta! Não me interessa, o que quero agora é ouvir-te.
Estou na aula de Antropossociologia e acabei de te escrever, sei que não podes ler esta carta, estás morta: o destino impeliu-te, brutalmente, para aí.
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