Quando te quis escrever, no sábado, dia 1, eu estava feliz e tu sabe-lo bem. Fui ver-te e estava com ele. Aqueles braços que me envolviam a cintura enquanto te lia são os que, muitas vezes, me amparam quando vou, e pior, quando quero cair.
É estranho ler teus versos doloridos quando aqueles braços quentes me envolvem. As minhas mãos estavam frias por te pegar, por sentir a dor de cada verso teu, por percebê-la, por, instintivamente, torná-la minha. Mas, desta vez, tua dor não abalou cada centímetro do meu corpo, porque seria traí-lo, seria trair o corpo que me abraçava deixar que isso acontecesse.
Ele não me quer ver chorar, carpir, sofrer, morrer. Diz que tenho de evitar tudo o que não é necessário. E assim, os braços quentes não me deixaram sussurrar-te como de costume, com aquela amargura que me vem das mágoas que tenho e que me adoça a boca. Naquele momento, não queria chorar.
Desde essa tarde os meus humores andaram em montanha russa, de loopings bem pronunciados. Amarguei, andei apática, recalquei crise de choro atrás de crise de choro. Fui magoada, senti o peso da culpa, que impus a mim mesma, por magoar quem me magoou, perdoei, sorri, fui traída por umas quantas lágrimas e recalquei nova crise de choro, até que, por fim, chorei, chorei e continuei a chorar.
Estou farta de ser eu, estou farta de chorar, estou farta desta instabilidade que me está inerente. Como aguentavas?
Fui a casa, tudo na mesma. Pergunto-me se me faz mais bem que mal lá voltar... Estou de volta a Vila, volto a recalcar a vontade inexplicável que tenho de chorar.
Flor, esta é a última carta que te escrevo. Vou tirar-te daquela estante, vais deixar de ser mais um livro, vais passar a ser o livro na minha cabeceira, vão ser teus versos a embalar-me o sono.
Até já...
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