junho 24, 2009

Cartas a Florbela - carta II

Hoje estive contigo, vi-te, toquei-te. Acho que também me viste, pelo menos naqueles momentos em que estive contigo nada escondi, nada recalquei.
Florbela, lembraste que te disse que queria chorar? Naquele dia não chorei! Não estavas lá, mas não chorei, alguém me amparou.
Hoje, Flor, entrei, olhei, andei para ti, não corri, nem tu, nem eu temos que expressar a nossa ânsia assim, ela fica tatuada em papel. Peguei-te nas minhas mãos, estavas diferente, a capa, a textura, o tamanho, no entanto eras tu, soube mal te li. Aquelas palavras que, apesar de já passar algum tempo, ainda sei quase de cor. Li-te de olhos semi-fechados, aplaquei a alma.
Naquele dia não chorei, recalquei e tranquei cá dentro as lágrimas que, por motivo nenhum, queria derramar. Sei que não o devia ter feito, não é bom para o corpo e, sobretudo, não é bom para a minha alma. Pensei em todos os momentos em que chorei desalmadamente, como queria fazer naquela altura, e empurrei essas lágrimas para lá. Reneguei-as e, cada vez que elas voltam, torno a recusá-las o mais que posso.
Quando te vi, eras mais uma, numa prateleira, etiquetaram-te e rotularam-te com um preço. Hoje é assim. Não tenho o que pedem por ti, por isso volto a colocar-te entre as outras duas lombadas que te aconchegavam, para que, quando me for, sejas outra vez mais uma numa estante.
Vou voltar para te ver, para me acalmar com aqueles teus devaneios em estrofes expressados. Vou, de olhos semi-fechados, sussurrar-te e vais deixar de ser mais uma numa estante.
Hoje também quero chorar, mas não o vou fazer. Estiveste comigo e, agora, vou abraçar aqueles que sempre me amparam.
Até breve, obrigada…

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