junho 19, 2009

Olhos cegos no Tejo...


"And you
Can bring me to my knees
Yeah"


Parou com o choque. Era aquela música a ressoar-lhe nos ouvidos, a fazer tremer cada célula do seu corpo e, em frente de si, erguiam-se aquelas escadas. Ironia pura!
Sentou-se nos seus degraus, nos degraus deles… Os óculos de sol escondiam a nascente, mas não tardou a que as lágrimas lhe escorressem pela cara, misturando-se com o suor da caminhada. Ali ficou, dorida, cansada, largada, a sentir-se, mais uma vez, esmagada pela saudade, pelo tempo, pela ausência, pela ferida ensanguentada que era o seu coração.
Contudo era melhor tudo isso, toda aquela dor e vazio, que nunca ter sido, que nunca ter sentido aquele fogo, aquele incêndio. Mesmo que soubesse que, a partir de agora, só teria fogueiras e brasas, era melhor assim e sabia-o. Ergueu-se, acariciou o degrau, levou os dedos ao peito. Foi para casa, riu com a sua Bonequinha, saiu para estudar com ela num café.
Mas hoje nada está bem, hoje não se sente bem, tem a alma inquieta, a querer sair do corpo, a querer correr para longe. Então sai do café e vai sentar-se ao sol, fecha os olhos e deixa-a ver o sítio onde quer estar e a alma diz-lhe:
- Oriana, vê como é bonito, como nós ficaríamos bem.
- Sós, apenas nós, hectares de milho verdejante e o Tejo, com as suas águas matreiras… - Completa-a num suspiro.
- O vento do fim de tarde assobiando e fazendo dançar as searas, o pó correndo em remoinhos, a pegar na tua pele suada, a sujar-te o corpo cansado… - Prossegue a alma.
- A volta para casa, o banho gelado de mangueira e, depois, cair exausta na cama, mas em paz. - Findou Oriana
- Era só isso que queria, dói-me tanto Oriana. Dói-nos tanto… - Desabafa.
- O Tejo, o milho, o fim de tarde doirado pelo poente, o vento na pele a dizer-nos que tudo avança, a esperança de que passe a dor a cada brisa… Como tenho saudades do Tejo!
- Oriana, não abras ainda os olhos, deixa-me vê-lo mais um pouco. Depois deixo-te voltar para a Bonequinha, deixo-te estudar. – Sussurra-lhe a alma, numa promessa rogada.
E quem ali passou viu Oriana, ao sol transmontano, numa pedra, de olhos fechados, sentada.

Oriana




Borrega




P.S.- "This is a dedicatory song":
* Bitchinho
~ Quase Gomo
* às tardes e noites no CC e respectiva companhia



Créditos:
Música:
Dream Theater - "I walk beside you"
Staind - "Outside"

Foto:
powerd by BiTcHiNhO*



1 rugidos:

Pulga disse...

'Yesterday you told me 'bout the blue blue sky
And all that I can see is just a yellow lemon-tree
I'm turning my head up and down
I'm turning turning turning turning turning around
And all that I can see is just another lemon-tree
(...)
Well, nothing ever happens and I wonder

Isolation is not good for me
Isolation I don't want to sit on the lemon-tree'

'When life gaves you lemons...
... make lemonade'

bjO*

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