As labaredas iam esmorecendo e, com receio que se extinguissem, ela deitou mais álcool nos lençóis. Tinham de arder até não passarem de cinzas, tinham de desaparecer.
Oriana tinha a noção do quão louco era aquele acto, mas precisava dele para purgar a alma. Aqueles lençóis não tinham culpa de cheirarem como ele, de, apesar de nunca terem envolvido o corpo dele, cheirarem à sua pele alva, ao corpo porque ela ansiava o retorno.
Tal como é costume às quartas-feiras, tinha feito a cama de lavado. Contudo, quando se deitara e se aconchegara nos lençóis, o cheiro dele estava lá. Levantou-se frenética, arrancou-os da cama, espezinhou-os lavada em lágrimas e em gritos doloridos. Depois acabou por adormecer num sono revolto por cima do colchão desnudo. Mal acordou, pegou neles e foi queimá-los.
E agora aqui está a vê-los arder e não se sente melhor, apenas mais louca! O lume abranda, extingue e ficam as cinzas. Está impregnada com o cheiro do fumo, mas ainda distingue o cheiro dele na sua pele, na sua memória.
- Merda! - resmunga entre dentes. - Achaste mesmo que o reduzirias a cinzas como aos estúpidos dos lençóis? Parva! Nunca ficarás sem ele, é parte de ti, do que foste, do que te tornaste. Mudou o que serás. Limita-te a sobreviver! Ignora o perfume doce que reduziu o teu amargo aroma. Aprende a estar bem! – auto-repreende-se.
- Esquece esta infantilidade e vai tomar banho. – roga-lhe a Consciência.
Voltando costas às cinzas, Oriana corre para debaixo do chuveiro, para lavar a vergonha que sente de si, das cinzas que ainda é! Quando renascerá a Fénix????
Oriana…
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