Mais uma vez, de malas aviadas.
Mais uma vez, a pequena, com a casa às costas, carregada.
Mais uma vez, o velho ao portão chorará a ausência da pequena que sempre amará.
Mais uma vez, ela não o olhará, cobarde, por medo de desabar.
Mais uma vez, lhe prometerá retornar sã e salva e lhe porá um beijo leve nas rugas vincadas e um abraço doce no corpo calejado.
Mais uma vez, se despede de casa para ir para casa.
Mais uma vez, aquele paradoxo sentimental, aquela agonia e felicidade em coexistência surreal.
Mais uma vez, a saudade começa a crescer, mas outra saudade começa a morrer.
Mais uma vez, está de Viagem:
É o vento que me leva.
O vento lusitano.
É este sopro humano
Universal
Que enfuna a inquietação de Portugal.
É esta fúria de loucura mansa
Que tudo alcança
Sem alcançar.
Que vai de céu em céu,
De mar em mar,
Até nunca chegar.
E esta tentação de me encontrar
Mais rico de amargura
Nas pausas da ventura
De me procurar...
Mais uma vez, despeço-me desta casa com uma certeza: a incerteza do retorno.
Borrega
Créditos:
Poema: "Viagem" de Miguel Torga (in "Diário XII")
Poema: "Viagem" de Miguel Torga (in "Diário XII")
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