"Um dia ainda cais podre de tão madura que estás."
(Cristina Picamilho)
(Cristina Picamilho)
Há já algum tempo que não ia ali. Agora que se estava a pôr de pé, a ressurgir depois de todo aquele tormento, de toda aquela dor lancinante... Arrepia-se só de pensar... Agora que se reerguia, precisava de perceber o porquê da sua Alma estar fraca...
- Quem construiu aqui um dique?- o seu tom é de calma estupefacção.
- Tu!
- Eu?
- Sim, tu.
- Isto é o porquê de me sentir fraca?
- Sim, como vês o dique apenas tem pequenas fugas, foste, como sempre, perfeccionista. A tua força já não jorra, já não te inunda a Alma.
- Porque raio fiz eu isto?
- Achaste que assim domarias melhor os teus ímpetos.
- Fiz batota.
- Fizeste.
- E tu deixaste? - tinha abandonado o tom calmo e caído em si.- Deixaste que me suicidasse? Sim, porque cortar a força que banha a minh'Alma é tentar suicídio. Deixaste? - atira exasperada e incrédula.
- Deixei. - responde a Consciência sem qualquer remorso. - Estar à beira do abismo, fez-te crescer, Oriana.
- Como o desmancho?
- Ali, chuta aquele tronco, desmoronará.
Corre, estanca colérica em frente do tronco, Lágrimas lavam-lhe a vergonha da face, chuta-o.
A água a engolir a madeira é como um grito de liberdade.
Oriana sente o corpo ser encharcado pelo rio de força que desespera por galgar os escombros que outrora o cingiam.
A frescura e o cheiro leve do murmúrio da água é música que adoça o ar e lhe anima o corpo.
Sorri, aliviada.
Sorri, sentindo a Alma a ser inundada daquela vivacidade impetuosa que lhe faltava.
Volta para perto da Consciência.
- És ser híbrido, és ser impetuoso, qual furacão, mexes em tudo por onde passas. És ser que se dá, que se mostras, que rasga o peito e expõe o Coração. És Alma em corpo, és melancolia de cem poetas cantada pelos teus olhos de brilho e tristeza. És mistério porque és vai-e-vem imparável de sentimentos.
- Tenho tanto medo de sofrer!
A Consciência olha-a complacente. Abraça-a e senta-a numa cadeira.
- Olha. - pede-lhe. - Por fugires desse medo, enclausuraste tudo isto. Se o encarares, como te sei capaz, crescerás.
Sorriso escancarado, de orelha a orelha, chega a Alma, encharcada até aos ossos.
- Oriana!!! - entoa melodiosa.
Pega-a no colo e atira-a ao ar, para depois a agarrar e abraçar.
- Obrigada. - sorri.
- Não estás chateada comigo?
- Não, eu também deixei. - pisca-lhe o olho. - Agora estou maior e mais forte. Ela mais sábia e tu, pequena, mais madura.
Abraçam-se.
Oriana senta-se de novo, e, ladeada pela Consciência e pela Alma, contemplou o seu Éden renascer...
Oriana...
Borrega
P.S.- A todos os que tiveram lá para mim...
1 rugidos:
quantas vezes podemos nós cair de maduros?
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