setembro 28, 2009

Ensimesmada



O seu corpo desnudo está, numa sensual inocência, caído sobre o sofá. O calor é descomunal e já sua por cada poro, apesar do banho gelado d'onde acabou de sair.
A toalha que lhe censurava as curvilíneas formas ficou caída algures entre a casa de banho e o sofá. Nem se deu ao incómodo de a apanhar, está exausta demais, esmagada pelo calor, pelos infernais 32ºC, desta noite estival.
Está disposta sobre o sofá quase sem qualquer sinal de rigidez, como quem dorme em REM profundo. Os olhos estão fechados, voltados para si mesma. Passado o quiasma óptico, é apanhada numa sinapse e levada até ao cérebro. Vagueia pela sua memória e ordena a meia dúzia de neurónios que lhe tragam umas quantas memórias para rever.
Já na sua posse, pergunta-lhes qual o caminho mais rápido para o coração. Espreme-se por entre a barreira hemato-encefálica e entra na circulação. Fluí pela jugular, depois pela sub-clávia, até à veia cava superior e, finalmente, chega: Coração!
É um sitio estranho, ecléctico, escuri'claro, quenti'frio, paradoxalmente agridoce.
Refastela-se lassa e luxuriante numa bela otomana. Aprecia-lhe o vermelho vivo dominante, as cicatrizes e estagna nas obras de reabilitação da zona com isquemia.
Sorri, leve, enquanto faz malabarismos com as memórias que trouxe consigo.
Olha-se nelas, cresceu!
Olha-se nelas, madurou!
Olha-se nelas, falta-lhe tanto que andar, que aprender, que melhorar!
Olha-se...
- Oriana. - soa-lhe uma voz, em doces meias de lã, ao ouvido.
Entrega as memórias a duas belas hemácias para que as reponham onde pertencem e abre os olhos. Meigo, ele está ajoelhado ao seu lado, de mão na sua barriga suada.
- Vem, vem para a cama.
Pega-a no colo, aconchega-a a si, apesar do luciférico ambiente. Pousa-a na cama de dossel, despe-se e, igualmente desnudo, vai colar o seu corpo no dela, numa concha de inocente luxúria carinhosa.
Oriana em crescimento.
Oriana e desejos do corpo e da alma.

Oriana...

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1 rugidos:

Andreia disse...

Que foto! Wow!!! *

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