setembro 19, 2009

Urso de peluche



‘Eu cresci’ grita ecoando na sala vazia.
É, cresceu. Foi arrancada dos quentes braços do urso de peluche e atirada para o frio metal da secretária. Foi marcada em todo o caminho até lá chegar. Não se lembra quem foi o culpado, mas sabe quais foram as lições a tirar.
Pois cresceu. Está tão grande que parece uma senhora. Os olhos já quase não brilham, o sorriso já quase não existe. De perna cruzada, já não se notam as marcas das quedas no asfalto, em que logo a seguir desatava a correr agarrando com força o urso de peluche. Já vai longe o tempo em que a dor era dele e não dela.
Sim, está crescida. Está crescida e sente-se enganada. Onde está a felicidade que lhe arrancaram no passado e lhe prometeram no futuro? Ainda a procura, mas os olhos já não luzem com essa vontade.
Falta-lhe o urso de peluche. Falta-lhe a meninice. Falta-lhe o brilho nos olhos. Falta-lhe o sorriso nos lábios. Ainda lhe falta crescer.
Pulga

1 rugidos:

Margarida Tomaz disse...

Esse brilho nos olhos está lá, é preciso recuperá-lo e a leitura e a escrita são o caminho, talvez o melhor. Estás a escrever lindamente! Continua.

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