Um carro passa por cima de uma poça, a água achocolatada aterra em cima de um monte disforme na calçada. O carro já passou, não viu o que ficou. Não viu o monte tomar forma e tornar-se um farrapo de moça.
Está ainda mais desorientada que costume, sonhava que era gente e foi acordada, a cama de dossel era de novo a calçada.
O carro não teve cuidado, o carro passou e nem viu. Mas também ninguém vê! Ninguém lhe estende a mão, ninguém a ergue do chão, ninguém a ajuda a subir de novo à sua torre...
Eu (Florbela Espanca)
Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...
Sombra de névoa ténue e esvaecida,
E que o destino, amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!
Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...
Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou!
Borrega
P.S.- Ana Cláudia este texto é-te dedicado...
1 rugidos:
A princesa...
um dia vai chegar à sua torre...mesmo sozinha, mesmo sem ajuda=D
Ter fe'..
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