maio 05, 2009

Casa


A cabeça doía-lhe. Exactamente acima dos olhos. Não conseguia chorar, mas a dor estava a tentar mudar isso. Agarrou-se ao telefone, marcou e desmarcou o número. Não era capaz de falar neste momento.
Saiu para a rua. Estava um dia bonito. Não havia nuvens e o sol aquecia. Andar para espairecer sabia-lhe sempre tão bem. Existia tanta gente que ela queria ali naquele momento com ela, e no entanto não queria ninguém. De tanta informação que absorveu em tantas estações, a sua cabeça estava à beira de rebentar. Aquela confusão de sentimentos era demais para ela só.
Um passeio no verde era algo que ela esperava desesperadamente que a acalmasse. Apenas o facto de andar e não pensar, de gritar sem qualquer ruído na imensidão duma floresta, apenas isso a fariam acreditar que sim, tudo iria correr bem.
As lágrimas que já à muito lhe secaram, mas que ela sentia na mesma, assemelhavam-se a pós que se elevavam acima da cabeça levadas pelo vento do Norte. O sentimento de conforto que há muito lhe abandonara os ombros, decaía nova e levemente sobre os ombros, fazendo-a sentir-se mais quente. A dor passou-lhe, sumiu como as lágrimas.
As pernas dirigiram-se, como que autónomas, para um sitio, um qualquer sítio familiar. O isolamento acabara. Necessitava da sua socialização familiar. Ele ainda estava a dormir, decerto. Ele devia estar ocupado. Ela a estudar. Ela em aulas. Ela atarefada em problemas. Ele a escrever. Ele dedilhava qualquer coisa.
Deu consigo a entrar num sítio escuro. Não literalmente. Estava bastante iluminado. Mas no mais recôndito da sua mente ela sabia que não era ali que devia estar. Obrigou-se a correr. Entrou de rompante.
‘Estou em casa’, sussurrou para ninguém.


Pulga

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