maio 12, 2009

Vendada...


" Devemos habituar-nos a isso: nas mais importantes encruzilhadas da vida, não existe sinalização." (Ernest Hemingway)


Não esperara aquilo, não esperara nada daquilo. Agora, a única coisa que espera é que o vento lhe traga a resposta.
Oriana sente-se como se a tivessem vendado: anda às apalpadelas, tentando ficar de pé, mas já arranjaou umas quantas nódoas negras. Não estava preparada para aquilo, para aquela subita e tão abrupta mudança de direcção.
Ouve os risos, pensa como os seus estão distantes. Não é que não ria, mas agora não sente, os seus lábios auto impoem-lhe aquele sorriso, para não preocupar mais os outros.
"Rio por fora, choro por dentro. Talvez seja hipócrita para comigo, mas não preocupo ninguém.", disse a uma das amigas que mais preza.
Já não sente a música, já não sente a comida, já não sente a chuva ou o sol, já não sente nada como sentia antes. Já nada é tão intenso como antes, só o vento...
Quando o vento certo vier, murmurar-lhe-á ao ouvido com o tom doce e grave de um anjo. Nesse momento, o momento em que a sua resposta chegar, a venda que lhe cobre os olhos, agora baços e pardacentos, cairá e talvez volte a ter rumo certo, talvez volte a sentir a intensidade das coisas...
Ouve os risos de alguém, os passos de alguém, mesmo vendada sabe que não os deve seguir, que não são os passos que deseja, o riso de que tem tantas saudades... Vai no sentido oposto, tactea até aquelas escadas de pedra, santuário de outros tempos mais luminosos, senta-se. Reza ao vento pela resposta, implora-lhe por ela.
Ele responde: "Ainda não tenho a tua resposta."
Afaga-lhe a face e com a sua voz de ancião despede-se com um doce e paternal:

"Oriana..."


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