fevereiro 27, 2009

Sono

Queria que o sono lhe acalmasse a mente, e não que a transbordasse de memórias felizes que agora lhe fazem doer. Queria que ao fechar os olhos estes apenas mostrassem uma cortina preta, e não a cara dele a rir-se para ela verdadeiramente feliz naquele momento. Que o corpo estava cansado já ela tinha entendido, mas era mesmo necessário mostrar desta forma?
Num desafio contra si mesma, deixou-se ficar na mesma posição. Fechando os olhos de vez em quando, para quando os abrisse ser bombardeada de recordações. Desistiu. Finalmente o corpo foi-lhe superior. Com o telemóvel com som esperou que o cansaço demora-se poucos segundos a mergulhá-la naquilo que esperava um sono profundo sem qualquer sonho.
Abriu os olhos… Estava apenas à uma hora a dormir, o que raio lhe podia ter acordado? Não ouvia barulho algum, o quarto estava silencioso. Toda a casa estava. Era estranho ter acordado assim, por si mesma, quando o seu corpo estava tão cansado…
Rebuscou pelo telemóvel em busca de esclarecer a sua ávida dúvida das horas, e aí encontrou a razão do seu despertar. Recebera uma mensagem, uma mensagem que esperara muito mais cedo… Rapidamente, com a habilidade garantida de muitos anos, respondeu. Esperava não mostrar que a tinham acordado. E numa fracção de segundo, relembrou as palavras de alguém, alguém que pintava um quadro de si que ela nunca pintaria. Fazia-la mais colorida, melhor pessoa do que realmente era, mas era alguém tão encantador e tão certo de suas palavras que ela não conseguiu desmentir.
Faziam-na corar quando lhe diziam aquelas coisas à sua frente. Sentia-se como qualquer atitude a partir daí, fizesse a pessoa tê-la em menor consideração.
A resposta chegou quase instantaneamente. Tentou sorrir, era suposto ser uma piada. Tentou responder-lhe no mesmo tom. A resposta que esperava não chegou, revolveu-se na cama, as pálpebras já não lhe pesavam, mas a mente transbordava e fazia uma enchente de boas memórias, memórias que ela queria repetir em breve e sabia que talvez não acontecesse…
E de repente, no fundo preto que tanto esperava, ouviu ‘uma baixa! Temos uma baixa!’. O sono finalmente a abatera, amanhã renasceria.

Pulga

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