fevereiro 10, 2009

Vila Real

À janela, ela contempla e despede-se dos prédios circundantes, da rua que tão bem conhece, até daquela terra, a que agora chama casa.
É cedo, mas o nevoeiro é já apenas um vestígio, está certa que o sol vai brilhar no céu.
De olhos vagos, na mão segura uma camomila quente, o seu vapor turva-lhe o rosto. Leva-a à boca e dá-lhe um trago. Não gosta de despedidas, e muito menos quando se trata de se despedir do 3ºD no lote 8 da Rua de Macau. É que, apesar de não saber se tem esse direito, desde o verão passado, chama-o também de seu. Ecoam-lhe aos ouvidos os risos, as conversas, vê, com um sorriso nos lábios, as muitas fotos tiradas, as brincadeiras no meio da rua.
Dá mais um longo e pachorrento golo na camomila e suspira. Vai ter saudades do jardim, antes verde, agora ainda em tons outonais, dos passos sobre a ponte ao som murmurado do rio, das noitadas na “Além Rio” e ali, no 3ºD, dos doces, dos passeios e até de, “enlatada” com os amigos no banco de trás do carro, ir ao Pioledo, depois a “sua” cascata e, por fim, subirem até à Senhora da Graça... Sabe que vai ser assim, é a terceira vez que se despede, já começa a ficar acostumada aquela sensação.
Vila Real é simplesmente... Vila Real! Talvez pareça exagero, mas esta cidade, que as serras contemplam, cruzou-se com ela numa altura macambúzia, e fê-la sorrir... Arrancou-lhe um genuíno sorriso de criança, daqueles que não dava há muito, por isso tornou-se sua, uma parte de quem é.
Volta a levar a camomila aos lábios, dá-lhe, decidida, o trago final, vira costas à janela e encara a cozinha pousando a caneca na mesa. Está na hora de ir lá fora retribuir o sorriso (embora um pouco agridoce pela partida, mas enfim) e dizer: “Até já!!!”.


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