fevereiro 21, 2009

Ego

E perante a plateia, no exterior solarengo, o professor expunha a sua matéria. A sombra dele deambulava, errante, diante dos jovens, contentes por estarem no exterior, ao som das folhas embaladas pelo vento. Esta é a aula de Antropossociologia.
Hoje vesti-me normalmente, vou ter com a minha irmã à cidade, ver as fotos de um dia que me foi especial, em que me diverti muito: a minha latada (um dos benefícios da praxe, de uma boa praxe). Estou a agir de uma forma algo extravagante para o que me é habitual, já repeti umas quantas vezes que tenho o ego nos píncaros. Devia, mas não tenho! Digo-o porque eles estão felizes e não quero ser a maçã podre no cesto, digo-o porque devia tê-lo mesmo lá, nos píncaros, digo-o para enterrar as lágrimas da noite passada.
O sol vai aquecendo o meu corpo que ontem chorava, vou pensando uma vez mais porque choro quando tudo me sorri. Tudo isto ao som do burburinho dos meus colegas e do murmurar da aula discursada pelo professor, que dança à minha frente com a sua sombra. As folhas caem, uma a uma, em debandada, das copas amarelas e avermelhadas das árvores, para rolar no chão.
Estou aqui de alma e coração, então porque me parece que, agora que mais preciso, a minha capacidade de abnegação e sacrifício diminuiu?
Não vou voltar às perguntas do meu registo anterior, não quero. A minha parte racional berra, esguela-se, tentando que eu entenda que estou feliz! Ela está um pouco ressentida comigo, porque agora já não exijo que ela domine as minhas acções. Acho que quando o fazia chorava menos, contudo recalcava mais, tranquei coisas demais dentro de mim. Agora ando sensível demais para o gosto dela. Não amoleci, não sou mais fraca do que antes. A resposta é óbvia, continuo com o mesmo medo de desiludir quem gosto, com a mesma pretensão estúpida a ser a “super-mulher”, só que agora gosto de mais pessoas, e gosto a sério. E lá está outra vez o meu extremismo! Dou tudo ou não dou nada, essa sou eu.
Continuo ao sol, eles continuam o burburinho, ele o murmúrio e eu acabo o meu desabafo. Hei-de caminhar decidida até à minha irmã, a minha irmã do peito, para a vida, e vou sorrir.
E sim, hoje o meu ego está nos píncaros!

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P.S.- O "registo anterior" mencionado no 5º parágrafo refere-se ao texto "Interrogações numa folha", o qual já está publicado.

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